Sim, nas galáxias está podendo aglomeração. O povo de Júpiter pode chegar pertinho, bem pertinho do povo de Saturno. Lá não tem Covid, porque lá não tem povo. Rárárá. Que arremedo de Simão mais besta.
Será que Júpiter tá negociando os anéis? Será que se apaixonaram? Ou é porque viram a solidão tão grande que reina no planeta Terra, a gente tudo carente de um abraço, de um aperto de mão que seja, pois hoje só pode a cotovelada e olhe lá, que os dois, compadecidos de nós, resolveram se juntar lá em cima, depois de 400 anos, pra gente poder se lembrar do que é estar junto e sem máscara? Outra cena igual a essa, só daqui a 60 anos (espero poder vê-la bem agarradinha – e enrugadinha – à alguém e sem máscara, claro).
Eu e meu pai subimos pra ver. Lá da cobertura. Da Terra, vimos Júpiter alinhado à Saturno e ainda vimos Marte. Quatro planetas a olho nu, todos perto de nós… Sim, a gente deve estar com uma aparência péssima no sistema solar, talvez eles tenham vindo nos socorrer, ou ver como a gente envelheceu no último ano. Sim, amigos que nos orbitam, estamos aos cacos, mas resistindo (alguns, muitos se foram). HELP!
Os “espertalistas” (palavra cunhada pelo meu sobrinho de quatro anos que juntou genialmente “esperto” com “especialista”. Não é a coisa mais linda? “Tia Lu, eu sou espertalista nisso”. Tia Lu baboooona). Mas, sim, segundo os espertalistas no Zodíaco, estamos iniciando a era de Aquário e agora tudo deve fluir, ser mais livre, mudanças de paradigmas, novas formas de pensar, mundo menos careta. Disse que 2021 vai ser um super ano nesse sentido e eu aqui pensando se isso inclui a derrocada do Bolsonaro e tudo o que ele representa.
Seria uma glória, hein? Depois desse famigerado ano de 2020, a gente desembocar num ano com vacina, pensamento livre e sem o JB e a Damares? Ô Glória!
Por ora, o que temos é o final do ano. Aprendi a não criar expectativas tão altas e aplainar sonhos depois deste ano. O que temos é a tensão e a tristeza de um Natal restrito. A vontade de abraçar e fazer o amigo secreto e a frustração de nada disso.
Mas eu não vou me alongar mais nesse ano não porque hoje Júpiter se alinhou com Saturno, o maior de todos com o senhor dos anéis, e isso só pode ser bom porque é mágico. Você já olhou pro céu pra ver que coisinha mais fofa é aquilo? Um brilha mais, o outro atrás, parecem até que nos olham enquanto a gente os olha. A lua está linda também e a temperatura bem gostosa em Fortaleza. Divaguei… É que estou tentando ser feliz com as pequenas coisas. Perguntei pro meu pai se a vida vai voltar a ser boa depois da vacina, “Dolorosa dúvida”, disse-me ele. Mas vai, pai, a gente sabe que vai.
Agora tá o ó, mas vai ficar melhor. Ave! Rimou, que cafona essa rima. Perdão, gente, o ano ainda é 2020.
Mas voltemos às vedetes da noite, Júpiter com Saturno porque eu ainda estou inebriada. Olhar pra cima e ser surpreendida com fenômenos desses é também uma forma de botar a cabeça pra fora d´água. Além disso, tudo que vem do céu me conecta com meu pai. Ele sabe tudo de céu, papai sabe muito de quase tudo, e eu adoro ouvi-lo falar do que se passa do lado de lá.
Mas eu, olhando pra cima, fiquei pensando se nessa onda de se achegar, fiquei pensando se você viria… Se essa confluência planetas, se isso faz mover os astros que fazem mover as montanhas, as marés e se isso tudo, de alguma forma, vibra por nós. Fiquei pensando naquele dia de céu limpo, beira do mar e vinho. Fiquei pensando na paz que teu regaço traz.
Por ora, só o que temos é 2020, mas não perco a esperança, pois Joe Biden venceu as eleições, já tem gente se vacinando, tem gente perto de mim se curando, a justiça que eu tanto pedi foi feita, apesar de capengar “vezenquando” e, pra me encher ainda mais de esperança, Júpiter e Saturno se alinharam, depois de 400 anos, outra dessa só daqui a 60 anos, talvez vejamos bem enrugadinhos…
Vai ser lindo, assim como foi hoje.
Ah! Feliz Natal, gente, na medida do impossível.
Crônica escrita em 21/12/20