Já nos quisemos mais. Já nos priorizamos, já encontramos mais brechas, já não perdíamos nenhuma oportunidade de nos termos. Tínhamos horas no meio de um dia que parecia querer roubar o nosso tempo. Suspendíamos-nos. Multiplicávamos espaços e segundos vezes todas as vezes que não conseguíamos estar juntos. Encontrar era respirar.
Já nos quisemos mais. Gastávamos horas entre poesias e letras de música, num mundo que insistia em nos dizer que precisávamos fazer conta e correr. Multiplicar o tempo pra lucrar. Nesse meio tempo, a gente dava na cara da vida com Ferreira Gullar e Caetano Veloso. Toma!
Já nos quisemos mais. Talvez num tempo antes, onde tínhamos muito para querer, o lado de fora pra nos distrair e quase sem tempo para estarmos. A gente criava cenários e existíamos nessa ansiedade do tempo “tríbio”,essa vontade de juntar passado, presente e futuro. Sentíamos muita sede.
Hoje, quando encontramos algum tempo, a gente perde. Faz tempo que não alimentamos aquela playlist pra depois e há tempos que não fugimos pra um banho de mar.
Que horas isso tudo muda? Que horas a gente se perde? Em tempos digitais, quando a gente se desconecta? Que horas a gente não encontra mais tempo pra se fazer presente? Que horas a gente passa a ligar só quando não dá mais tempo de se ver?
Quando a gente deixa de se querer?
Levaremos, meu amor, uma vida inteira pra saber.