Lá vem a quarta-feira, lá lá lá… Com saudade

O título remetendo ao show de calouros do Silvio Santos não tem nada a ver com o tema de hoje.
Na verdade, esse refrão veio na minha cabeça, pois sabia que teria de ter um tema para esta quarta, mas não estava, digamos assim, tão inspirada.
Não tô porque eu tô triste e é uma tristeza que não melhora quando falo, ela dói. Só me ocorre uma coisa na cachola: o meu avô morreu e eu estou morrendo de saudades.
Sinceramente, eu não sabia, até o dia 2 de Janeiro de 2016, em plenos 34 anos de idade, o que era perder um avô. Não fazia a menor ideia.
Tive dois, um até os seus 103 anos, 11 meses e 9 dias e o outro que vai já fazer 92 anos de idade.
A sensação que me acomete não é de revolta, não é de desespero, nem de ferida exposta. Não me tirou a vontade de viver, nem de seguir com o meu cotidiano, nada disso, afinal, foram muitos anos ao lado dele e meu vôzinho já estava sofrendo muito. A minha dor é como um ferimento inflamado, sabe?! aqueles que você sabe que está ali, você toma o maior cuidado, mas quando esbarra dói. Pois é, tá doendo assim, essa perda.
Tudo é dolorido: entrar na casa grande em Aquiraz, local onde meu avô morou e atualmente trabalho, e me deparar com a história da vida dele, subir em seu andar, 4º, e saber que quem eu quero não está mais lá no 402. Que aquela casa que diz tanto da minha vida, da minha história, agora não tem ninguém dentro para continuar narrando o meu enredo. O quarto, a sala, a casa está vazia, a cozinha, o corredor, a xícara de café com leite e o pote de doce de leite.
É uma sensação de não aceitação, de perda de um pedaço de mim, é como se, quem morre, levasse consigo uma parte do nosso corpo, leva embora sonhos latentes, leva projetos, perspectivas, esperanças e mais um monte de coisa, se quem partiu se foi cedo demais.
Não, eu não posso reclamar disso, meu avô não partiu cedo, mas ainda faltavam algumas coisas, vô.
O senhor não me viu de noiva – e eu nem sei se eu mesma vou me ver -, o senhor não conheceu seu bisneto que eu ia te dar, nem dançou comigo a valsa do meu casamento… A gente nem fez aquela viagem que combinamos para Bonito, nem fomos ao Rio de Janeiro juntos, vô, para eu conhecer as razões pelas quais a cidade mais absurdamente encantadora desse mundo também te encantava tanto.
Faltou, vô, o senhor me narrar, mais uma vez, para eu gravar, a trajetória de todos os presidentes que o senhor vivenciou, desde 1912 até 2016. Faltou o senhor me falar mais da sua história com a vovó e como o senhor se sentia com esse monte de netos na sua casa da Prainha quando éramos pequenos.
Eu queria te pedir uns conselhos, vô, sobre trabalho, sobre o amor e sobre a vida. Queria saber se, do alto de toda experiência, dá pra garantir que as escolhas nos levaram ao melhor destino.
Queria ter ido à praia com o senhor, tomado uma dose de Colonial juntos e queria também ter passado uma tarde inteira de papo furado ao seu lado, só lhe perguntando e lhe ouvindo. Queria saber mais sobre a sua fé, do tamanho dela e quem era Deus para o senhor. Só sei que o senhor acreditava nele, isso eu perguntei.
Queria lhe dizer um enfático ATÉ LOGO!, para o senhor que nunca nos dava um “tchau”.
Infelizmente o “até logo”, agora não ecoa, não tem volta, não tem mais o senhor… Vou seguir com minha saudade, com minha dor magoada, com minha bagagem de amor que eu nutri uma vida inteira pela maior pessoa que já conheci.
Hoje, é dia 6/01, faz 18 anos que a vó Laïs também nos deixou. Hoje a festa no céu vai ser linda… Vou mandar tocar daqui o “Riacho do Navio” para o senhor tirar a sua única dama dessa e de todas as vidas para dançar.
Au revoir!
Luciiii (sua neta)

Você também pode gostar

Deixe aqui o seu comentário

2 respostas

  1. Lá vem a quarta-feira, é um texto muito interessante, de conteúdo emocional e vivencial(se é que essa palavra existe).
    A saudade, essa dor doída, que não sai de perto quando perdemos esse alguém tão especial. No seu caso foi o avô, e eu imagino que ainda tenha o pai e a mãe, para continuar as histórias vividas em tempos atrás, no meu foi o pai e a mãe, e já não tenho ninguém que conte os tempos vividos, a não ser os irmãos; mas podemos amenizar essa saudade, que é o que minha família tem tentado fazer. Continuamos fazendo tudo(encontros, reuniões, confraternizações de natal, dia dos pais e mães e das crianças, as novenas de natal e o terço semanal), como eles faziam quando estavam conosco. É como se eles também estivessem conosco e deixa nosso coração grato e confortado, além de manter a família unida e reunida.
    Desejo a você e toda sua família que a paz de Jesus, o amor de Maria e a proteção de São José estejam com todos vocês neste momento de dor e saudade.
    Alice Aguiar

    1. Cara, Alice,
      Muito obrigada pelas suas doces palavras, mesmo para falar de um sentimento tão profundo quanto a saudade de pai e mãe.
      Muito bom ver que as famílias se querem por perto e mantém vivas as tradições que nos foram deixadas. Fico feliz!
      Desejo para você essa união e esse sentimento de pertencimento e segurança que uma família dá para sempre.
      Beijos e obrigada por compartilhar comigo essa dor que é tão especial, pois se trata das pessoas mais importantes em nossas vidas.
      Com carinho.
      Luciana

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.