Leitura seleta!

Tenho algo a confessar: durante a vida inteira, até os meus 30 anos, mais ou menos, eu detestei ler!
Isso mesmo, salvo os livros maravilhosos da Zelia Gattai, os quais minha mãe me apresentou aos vinte e meios anos, eu D E T E S T A V A ler. Acho até que já falei isso por aqui, mas, como bem disse Martha Medeiros, todo escritor é repetitivo, então, tô perdoada.
Eu me esforçava, li Kafka – porque meu paquera da época me indicou e é lóooogico que fui correr atrás, né?. Li livros sobre a ditadura militar – os quais me despertaram pra uma história brasileira terrível, mas que só reforçou em mim a importância da liberdade de expressão. Li Marcelo Rubens Paiva- adoro – e mais alguns, mas a verdade é que a leitura não emplacava. Acho que lia um livro por ano e só. Nem de revista eu gostava.
Eu não sei bem o que acontecia, as letras sambavam no livro, eu não conseguia focar a visão, eu ia em vários oculistas e todos insistiam em dizer que eu enxergava perfeitamente bem… Então, achei que o problema era uma preguiça mesmo da leitura, o que me dava vergonha e uma culpazinha… Sentia-me meio alienada, mas fazer o que?
Aí, há uns quatro anos eu descobri a Martha Medeiros e, de lá pra cá, minha vida mudou. Leitura leve, fácil, crônicas deliciosas que falavam intimamente com meus sentimentos, corrobora com que eu penso e com o que eu não sei explicar, mas ela faz isso muito bem, colocar em palavras as emoções caóticas.
Aí desasnei! Fui me aventurando em Carpinejar, Xico Sá, Maria Ribeiro, Gregório Duvivier, Antônio Prata e mais um monte de outros autores e livros que juntos, devo estar lendo uns oito livros por ano, fácil. Até assinei minha primeira revista, a TPM, tô amando!
Mas todo esse preâmbulo aí só serve para uma coisa: ler é que é importante, não importa o que você leia. A leitura é o melhor dos vícios, é barata, é democrática, faz bem pra alma e pra inteligência… Desde que sua leitura não seja apenas de revista de fofoca, tá valendo.
O problema é que meu marido lê infinitamente mais do que eu. Trabalha feito um louco, mas encontra tempo de ler desde ficção até todas as notícias que acontecem no mundo mundial, sem exceção.
Aí ele chega pra mim e diz: – Você não está sabendo da falcatrua da Volkswagen? Você não viu o que a presidente falou no encontro com o Obama? Você não leu o artigo do Fulano de tal na Folha?… NÃO, EU NÃO LI E NEM VOU LER!
No início eu ficava meio constrangida e frustrada, pois já estava me achando lendo a Martha Medeiros, toda contente porque havia sido picada pelo bichinho da leitura, mas não era o suficiente. Comecei a pensar que nunca será, pois a quantidade de produções textuais diárias nesse mundo cresce em projeções logarítmicas e jamais alcançarei a tudo.
Depois de mais uma perguntinha dessas dele eu finalmente me libertei e disse: Não, eu não li e não vou ler! Estou me limitando às leituras que eu gosto e a acompanhar, male male, em que etapa está a operação lava-jato.
Esse país de cabeça pra baixo, a crise batendo na nossa porta – preciso nem ler pra saber disso, eu sinto -, é corrupção, é ladrão da educação, da merenda, da Petrobrás. É panelaço, é pedalada, é Eduardo Cunha, é a violência, é a redução da maioridade, é chacina e o problema de não acompanhar toda essa palhaçada em tempo real é meu? A alienada sou eu, que estou tentando passar por tudo isso com uma empresa pra tocar, com contas a pagar e vida pra levar?
Não mesmo!
Sinceramente, não saber de tudo pode ser a escolha mais sã que podemos tomar, pois tanta tragédia prejudica o andamento da vida. Não vou me sentir alienada porque o mundo resolveu pirar e eu resolvi não acompanhar de camarote.
É coisa demais, não dou conta! Vou esperar virar filme e assistir comendo pipoca com refrigerante na hora que eu bem entender.
P.S.: Vou continuar assistindo à Globo news, que dá a notícia sem sensacionalismo, de forma inteligente e sob uma reflexão ampla. #ficaadica

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2 respostas

  1. Adorei, Lu! Nunca fico por dentro do que está acontecendo no mundo, não paro quieto. Se eu for me obrigar a ficar lendo notícias para ficar antenado, não me divirto mais. Então fico por fora mesmo e nem ligo mais pra isso.
    Às vezes parece que há uma pressão para que tenhamos opinião sobre tudo. E eu lá tenho que estar por dentro de tudo para sair dando minha opinião? Há vários assuntos pelos quais simplesmente não me interessam e não vou procurar me inteirar deles. Talvez se eu tivesse mais tempo livre, mas não é o caso.
    Então leio para me divertir. Leio sobre assuntos que me agradam, pelos quais me divirto em me inteirar e discutir e assim vivo feliz.
    Sobre gostar de ler… definitivamente não foi a escola que me ajudou nisso, com raras exceções (Os Karas, Meu Pé de Laranja Lima…), as outras obras não vieram em um momento em que eu tivesse conhecimento para apreciá-las – isso só veio na faculdade de letras; o que realmente me fez pensar “ei, ler pode ser divertido sim!” foram histórias em quadrinhos, que leio até hoje e me ajudaram não só a gostar de ler, mas a ser uma pessoa melhor e que procurar seguir seus valores.

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