Marisa Letícia – Sobre a morte

 
Morre a D. Marisa Letícia
Notícia triste, muito triste.
Triste porque toda morte é lamentável, até da pessoa mais má desse mundo, pois lamenta-se por ela não ter aproveitado a vida pra fazer o bem. Não é o caso de D. Marisa Letícia, tenho certeza.
Apesar de conhecer pouquíssimo da sua biografia, só sei que ela foi casada, por muitos e muitos anos, com um dos caras que mais teve poder nesse país. Um adendo, também sempre achei o seu nome engraçado: Marisa Letícia, são lindos, mas achava a combinação engraçada.
Também não vou tecer meus comentários sobre o Lula, isso é o que menos importa agora, pois ele acabou de perder, com certeza, a sua maior e melhor companheira.
Ela morreu na pior hora para isso, se é quem tem hora boa. Mas fato é que ela deixou desamparado o marido, creio, no momento mais difícil da sua vida. E isso é fogo, dói pra caramba, é de matar.
Estou torcendo para não encontrar nenhuma brincadeirinha de mau gosto nas redes socais, porque o meu lamento aqui é pela dor da família, essa dor de família que só quem tem uma e é apegado a ela sente. Dói!
Dói perder a pessoa com a qual você passou a maior parte dos anos da sua vida. Dói perder a confidente, a que apoia, a que aconselha, a que se beija, se enrosca… A que já acolhe teu corpo como se fosse parte, como se fossem um só. E não estou falando só de sexo, mas de abraço, aconchego, essas coisas.
Morre também a mãe. Não quero nem pensar o que significa perder uma mãe. Fico triste e sinto calafrio só de pensar em ficar sem ouvir a voz da minha, sem poder abraçar aquela coisinha pequena e forte que é minha mãe. Quero nem pensar.
Junto com a morte de D. Marisa, impossível não vir aquele pensamento de que tudo o que está ruim, pode piorar, e isso é desesperador. Se você conseguir ter empatia nesta hora, independente da sua orientação política, vai ver que a vida do Lula não estava fácil, e essa perda certamente foi o que lhe ocorreu de mais difícil. Isso dói.
Mesmo a conhecendo pouquíssimo, D. Marisa sempre me transpareceu algo que admiro demais em um casal: a união, seja em qual situação for. Vendo esses políticos sendo presos, ou sofrendo coerções, indo depor na PF, vejo cada cara feia e desunião das mulheres que fico pensando que, enquanto há grana, há amor, depois…
Mas D. Marisa sempre esteve lá, com seu sorriso, ou bem séria, a depender do calor do momento, ao lado do seu Luís Inácio.
Eu tô com muita pena do Lula. Nunca votei nele, me decepcionei com ele, mas, se eu pudesse, hoje eu lhe daria um abraço. Diria pra ele: – Olha, agora não tá valendo, estamos de “bandeirinha” – aquela que cruza os dedinhos pra dar uma pausa na brincadeira – o que aconteceu foi injusto contigo, Lula, a vida te pregou a pior das peças e essa você não merecia.
Não é que você não merecesse porque é você, Lula, mas é porque ninguém merece isso. Ninguém merece perder os seus precocemente seja por que motivo for.
Não merece perder filho em tiroteio, não merece perder mãe em fila de hospital sem atendimento, não merece perder sobrinho com dengue e febre amarela. Ninguém merece perder irmão com câncer, perder o pai em acidente de carro e o neto afogado numa piscina num clube em um domingo feliz.
Ninguém merece perder ninguém para o cigarro, para a bebida, para as drogas ilícitas. É muito triste perder amigo m tiroteio, perder marido por depressão, perder tios por qualquer coisa que não seja a velhice.
E é por isso, simplesmente pela perda de uma pessoa, que hoje o dia é triste.
Meus sentimentos ao Lula e família.