Maturidade e chocolate – Eu e uma barra de Lindt

Maturidade e chocolate – Eu e uma barra de Lindt
Devo começar esta crônica com a  seguinte afirmação: EU SOU UMA PESSOA SUPER REGRADA COM COMIDA.
Sim, quem convive comigo sabe que fui uma criança gordinha e que eu morro de medo de engordar, coisa de trauma mesmo, de pavor, de fobia. Eu regro a alimentação até em viagens, procuro o que é mais saudável, não como qualquer coisa e fato é que sempre acabo perdendo uns quilinhos quando saio da rotina.
Você pode estar pensando: Ok, todo mundo tem preocupação em engordar, ninguém quer, super natural ela fazer dieta…
Nem tanto gata, sofro muito buylling por fazer dieta. Aliás, fazer dieta é “pior” que ser gay em matéria de discriminação. Ser gay tá na moda, dieta sempre é vista com olho torto, principalmente por quem tem uns quilinhos que quer perder e não consegue entrar no regime.
Costumo dizer que eu não tô de dieta, mas que eu SOU de dieta desde os meus 15 anos e sou feliz assim, eu amo as comidinhas saudáveis que eu como, me sinto bem, acho gostoso e me dá prazer.
Acontece que tem um lado meu que não pensa do jeito que meu racional pensa e que é um rebelde (com causas). Esse lado meu é guloso e adora tudo o que engorda e faz mal. Ama uma coca zero – sou viciada mesmo, fico mal se não tomar todos os dias, quase numa crise de abstinência. E, de uns anos pra cá, dei pra me viciar em chocolate que, putz!, é uma droga.
E é aí que mora o título desta crônica: EU NÃO TENHO A MENOR MATURIDADE PARA COMPRAR UMA BARRA DE CHOCOLATE.
Voltando de Nova York pensei: vou levar uma barra daquele chocolate que amo, o Lindt com amêndoas e deixar no meu criado-mudo para ir comendo, deve durar umas duas semanas…
Meu povo, pasmem!, durou dois dias. Gente, eu acabei de comer o último pedaço e tô até com medo de mim, do que sou capaz de fazer na vida. Se eu sou capaz de devorar uma barra daquelas em dois dias, pode ter certeza de que posso fazer coisas muito piores. Melhor nem pensar.
Tô aqui cheia de culpa, mas tentando mentalizar que amanhã tenho natação e que tudo vai ficar bem. Pensando também que nunca terei a barriga daquela blogueira que eu vi ontem, mas tá tudo certo com a minha por enquanto. Quer dizer, depois desses dois dias, pode ser que ela se revolte comigo e cresça feito uma de grávida enquanto eu estiver dormindo. Minha Nossa Senhora da Gula, não permita.
Mas a verdade é que, por mais que a gente seja regrada em um monte de coisas, tenha pensamentos bons e boas intenções para com a vida, com o próximo. Por mais que busquemos hábitos saudáveis em todas as esferas da vida, por mais que pensemos estar no controle de nosso corpo e mente e que tentemos nos impor regras, por mais que e por mais que e etc, a verdade é que tem um lado nosso que não tem e nunca terá maturidade para alguma (s) coisa (s).
Tem gente que não te maturidade para relacionamentos, é ciumento demais, ou desapegado demais, é egoísta demais… Há quem não tenha maturidade para o trabalho, que não se compromete, não respeita prazos, não trabalha em equipe. Também tem aquela (e) que não amadureceu o suficiente para as compras gasta pra caramba, todo mês, todos os dias com coisas que jamais irá usar.
Há também quem não tenha maturidade para o amor, que requer de nós muita sabedoria. Sentimento forte, desafiador, já que você escolhe amar algo que está fora de você e este alvo é completamente móvel, incerto e mutável. Sentimento que nos vulnerabiliza, portanto, mas que traz um estado de graça e de paz quando é correspondido. Pois tem gente que não sabe lidar com uma emoção tão forte quanto essa e foge. Como criança foge do quarto escuro e corre pra perto da mãe, há quem corra léguas de um sentimento desarticulador como esse e corra pra perto da solidão, ou de uma multidão vazia, pra farra, ou pra um bem querer mais brando, mas que a deixe com maior controle da situação.
No meu caso, o descontrole é com a barra de chocolate. Sabendo que ela tá ali, é só eu abrir a gaveta e pegar, que ninguém vai dizer, como quando a gente é criança, se eu posso ou não e que horas eu posso ou não. Terminei de comer depois do café da manhã, sem nem me preocupar se vou ter fome no almoço.
Uma imaturidade completa, um impulso, um repente, uma possessão, uma eu que nem sei quem é e que nem quero ser…
Quer dizer, eu sei quem sou essa eu sim e, de certo modo, gosto de sê-la. É alguém que me conserva um traço de rebeldia, de paixão e tensão. Alguém que não amorna os amores, os afetos, as histórias. Alguém que é o meu 80 em oposição ao meu 8, alguém que é o Yin do meu Yang, o descolado da minha caretice, o corajoso do meu medo, a criança do meu eu adulto, o irresponsável dentro de minhas regras… Sou eu.
Pois bem, agora expiada a minha culpa, vou seguir com minha vida normal, tentado não comprar mais barras de chocolates tão grande, pois já entendi que tem coisas para as quais nunca amadureceremos.
Por favor, não me deixe só nessa angústia pensando que só sou eu esse ser sem maturidade para chocolates. Deixa aqui nos comentários a sua versão que nunca cresceu, vá lá 🙂
Desejo um bom dia bem doce pra vocês e espero que não nos encontremos por enquanto, pois ainda continuo sem saber do que sou capaz de fazer depois de comer uma barra de chocolate dessas em dois dias.
Vou até encerrar essa cronica com uma musiquinha que vem bem a calhar hoje 🙂

 

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7 respostas

  1. Nossa, comida em geral, pra mim. Ainda mais porque como para aliviar estresse. No início do ano, comecei uma dieta e estava indo bem, mas aí me mudei e a rotina que eu tinha criado foi pro espaço. Estou tentando voltar a ela agora.

  2. Lu, a minha falta de maturidade com barras de chocolate (e balas de coco) é igual, porém a causa e consequência, para mim, são outras. A causa, descobri, é a crise de abstinência, preciso evitar. Logo, a consequência é que preciso comer um docinho todos os dias para evitar a abstinência e não chegar nesse ponto de devorar uma barra em 2 dias… já te contei essa minha teoria, vai de cada um se conhecer, rsrs… Beijos, adorei a crônica, leve e engraçada, com algumas grandes verdades no meio.

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