Meditação às avessas

Estou aqui na praia do Leblon lendo um livro maravilhoso!
Estava tão absorta na leitura que até me esqueci por alguns instantes de onde eu estava. Vez em quando ouvia o barulho do mar, que é como ouvir Chico Buarque, e só. Um momento de paz e tranquilidade raro nos dias atuais.
Aí, parei de ler e, vendo aquele cenário incrível que me cercava – morro Dois Irmãos à direita, Arpoador à esquerda, mar à frente e Leblon atrás – resolvi tentar meditar, coisa que só o fiz umas duas vezes na vida.
Respirei bem fundo uma vez:
– Guaraplus, Guaraviton, olha a água!
– Alô biscoito Globo, alô Skol, latinha ou latão
– Olha a esfirra!
Respirei mais fundo ainda na segunda vez e as vozes continuaram. Ouvia do Leme ao Pontal cada sussurro:
– Alô cerveja!
– Quer cadeira e guarda-sol?
– Gritos de criança…
Tentei mais uma vez e diante da minha incapacidade de pensar em nada e me abstrair concentrando-me no inspira e expira, parei de tentar.
Posso até estar enganada, mas meditação me parece mais uma metáfora sobre o que prende a sua atenção no presente do que uma técnica. Se a ideia é manter-se no aqui e no agora sem pensar em mais nada, consigo pensar em várias formas de fazê-lo. Quer ver?
Ler um bom livro, daqueles que você é quase um personagem de tão envolvido que está na narrativa. Almoçar sozinho em seu restaurante preferido na companhia apenas de outro livro, do seu celular ou de seus pensamentos mesmo, que costumam ser ótimos acompanhantes. Outra coisa que nos mantém presentes é papear com uma amiga por horas a fio, a gente nem percebe o tempo passar de tão bom que é. Reencontrar alguém muito especial por uma noite regada a vinho, boas conversas e muito mais? Isso é meditação na veia!
Sou muito cética e esses padrões de relaxamento me angustiam mais do que me acalmam. Acho que ficar vendo essas pessoas pelas redes sociais ou TV que meditam e dizem ter sua vida mudada, que estão muito mais calmas, serenas, produtivas, pele mais jovem, corpo mais firme, muito mais concentrada, melhorou no sexo, mudou a relação com os pais e com os filhos e com espírito santo, amém me soa como uma cobrança e um atestado de incompetência para quem ainda não conseguiu acessar este nirvana como a coitada aqui que vos escreve.
Desculpem-me se isso parece uma sátira, respeito demais quem encontra qualquer forma de relaxar. Aqui tem um pouco de humor também, pois isso relaxa, né? Acho que vou fundar a minha filosofia própria para tentar conter esta alma inquieta e prendê-la no dia de hoje.
Respirar e inspirar vai ficar para a academia, pois tenho outras coisas que me distraem de mim mesma e me conectam a mim. E você, o que te faz meditar?