A minha bandeira do Brasil

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as cores da minha bandeira: verde, azul, branco da areia, das nuvens e o amarelo está no sol acima.

A minha bandeira do Brasil

A minha bandeira do Brasil
Sempre achei linda as cores da bandeira do Brasil. Mesmo elas não combinando entre si quando o quesito é roupa, a não ser quando é copa do mundo. Mas ali, aquele verde, amarelo, azul e branco, naquele pano, ali é bonito demais. 
O verde vivo, o Verde Bandeira, o que representa a nossa mata, nossas florestas, que, a essa altura, já deve estar até desbotando, porque o desmatamento cresceu absurdamente neste período em que estamos confinados. Como falou o ministro do Meio Ambiente naquela reunião chocante do 22/04, eles querem aproveitar que a imprensa está falando “só de Covid”, pra passar a “boiada” – lê-se, todas as medidas que facilitam o desmatamento e a expulsão dos Povos indígenas – aos quais o ministro da educação tem horror, segundo ele próprio. Não os reconhece como um povo, mesmo sendo ministro da educação que deveria entender minimante de história e, portanto, do processo estuprador que foi o da colonização, esse cara diz que tem HORROR a nomenclatura “Povos indígenas” porque somos todos um só povo. Pra cima de moi? Essa demagogia de que somos todos um? Não não somos, daqui de onde eu falo eu não posso dizer que sou o mesmo povo que está à míngua, nas ruas, em tempos de pandemia. Eu sou um “povo” com camadas de privilégios que muitos outros povos aqui não têm. E isso deveria ser uma preocupação de quem honra a BANDEIRA DO BRASIL.
Mas voltemos à ela, à bandeira, porque hoje ela é vedete nessa crônica, como um pedido de desculpas, já que eu, de uns dois anos ou mais, peguei ranço dela. Depois eu digo por quê.
Gente, que azul é aquele? Que azul mais lindo! Azul anil, que representa o céu e os rios. Tem coisa mais rica? Só me vem na mente o céu azul da praia da minha infância e aqueles rios amazônicos que vão formando caminhos por entre as matas. Você conhece Bonito, no Mato Grosso do Sul? Aquelas imagens que aparecem no Globo repórter, sabe? Isso é Brasil demais, vejo nossa bandeira ali. Naqueles igarapés, nas populações ribeirinhas que tiram o sustento da família de lá, da pesca, do mangue, da mata. Que sofrem com a quebra das barragens de Mariana, Brumadinho. Isso é como se jogasse lama na bandeira. Rejeitos de um país pedrador e irresponsável. É uma pena. Mas as cores da bandeira não têm nada a ver com isso. Elas são vítimas, assim como ela, a nossa bandeira, vem sendo vítima de um neofascismo/neoliberalismo nacional. Não passarão.
O amarelo é luz, eu amo. Representando as nossas riquezas. Sim, absurdamente mal distribuídas essas riquezas, a gente bem sabe, né gente? Imagina que 1% dos mais ricos do país concentram 28,3% de toda a riqueza do Brasil.
– Não, Luciana, não é dessa riqueza que a bandeira tá falando, é da riqueza natural, do ouro.
Sinto em informar que é a mesminha riqueza, aqui, nesse país classicista e desigual, uma riqueza leva à outra desde as capitanias hereditárias. Nunca me esqueço da definição nos livros de história a qual eu precisava decorar pra prova: “Capitanias hereditárias eram terras de grande extensão que iam passando de pais para filhos”. Era assim que a gente aprendia, sem nenhuma crítica, nenhum professor que tivesse chegado pra nós – todos brancos na minha sala de aula, TODOS – nenhum que tivesse vindo perguntar “Vocês não acham estranha essa sucessão de terra de pai para filho? Essas terras de grande extensão? Hein?”. Não, nunca fui questionada.
Mas o amarelo, o amarelo da bandeira, esse amarelo, ele é lindo. Diz ali no site que busquei que esse amarelo é da cor da casa real de Habsburgo-Lorena, uma homenagem à mulher de Dom Pedro. Pá! Pois é. Mas é bonito e eu gosto, mesmo sabendo que carrega todo um processo de colonização tão cruel quanto hereditário que vigora até hoje no nosso país, igualzinho às capitanias.
Mas eu quero paz e, por isso, tem o branco, Que simboliza a paz. Coisa que não estamos tendo nestes tempos e nem sei se já tivemos um dia. Numa sociedade com tantos pobres e miseráveis como a nossa, pedir paz é igual a você querer que… sei lá, você entende. A pessoa não tem o que comer, ou, mesmo que tenha o que comer, numa sociedade do consumo como a nossa, difícil você ter que olhar o outro ter e você -no caso, não sei se você que me lê se aplica ao caso – mas o outro, com um mísero salário mínimo, por mais que trabalhe, não vai conseguir ter. Difícil falar de paz.
Difícil falar de paz depois de assistir ao tal vídeo do 22/04. Se você conseguir tirar os palavrões da fala, só vai restar descaso com a pandemia, nenhum cuidado, ou sequer referência aos mais de 15.000 mortos, vai restar violência, ditadura, censura, homofobia, oportunismo, covardia e racismo. Tem mais coisa também, mas já falei o suficiente.   
Contudo, eu trago aqui, nesta crônica, neste dia 26/05, uma proposta:  VAMOS RESGATAR AS CORES DO BRASIL PRA QUEM DE FATO AMA ISSO AQUI.
E aqui eu faço o meu protesto. O inominável presidente da república roubou pra si as nossas cores, a nossa brasilidade, a nossa bandeira. De um lado, os que vestem verde e amarelo (camisa da CBF no valor de 300 reais e personalizada, óoooobvio) e do outro a gente foi se acuando e, aos poucos, deixando desbotar as nossas cores. Usar a bandeira virou sinônimo de apoio a JB, onde já se viu um negócio desses?
Reitero minha proposta: VAMOS RESGATAR AS CORES DO BRASIL PRA QUEM DE FATO AMA ISSO AQUI. 
Pra quem quer mata preservada, pra quem tem respeito a todos os povos que já habitavam isso aqui antes da gente, ou quem foi escravo (a) e fora obrigado (a) a colonizar esse país. Pra quem respeita as culturas que nos fundaram, as religiões de matrizes africanas, as crenças e ritos milenares dos povos indígenas, a cultura cigana e, claro, as cristãs. Pra quem não quer vender o país a qualquer preço e deixar os pobres à míngua em uma pandemia, pra quem reconhece a importância do Estado, mesmo sabendo que esse Estado está bem corrupto e precisa sim, de enquadramento, muito enquadramento. Pra quem entende que o Enem precisa, sim, reparar erros seculares com os mais pobres, com os negros e tem de ser adiado. Pra quem não polui praias e rios pra encher os bolsos de dinheiro com a sua empresa devoradora, devastadora. Pra quem não quer armar a população e transformar isso aqui numa guerra civil, mas que espera por maiores oportunidades para que as pessoas não busquem a criminalidade como solução.
A Bandeira pra quem é Brasil mesmo, e não acima de todos, um Brasil que oprime, mas o Brasil que está do lado de todos.
Você não precisa comprar uma camisa da CBF personalizada com o seu nome para ser Brasileiro e adotar as cores da bandeira para si. Nem precisa comprar nada, apenas volte a olhar pra ela como sua. E, assim como você, ela também está em evolução e não precisa estar sujeita a esse retrocesso. 
Se for difícil esse resgate, comece pelo azul e branco, pode até parecer que você é portelense e isso dá um orgulho danado, com o tempo, a figura ridícula daquele empresário da Havan vai sumindo da sua cabeça e aí você vai poder vestir o verde e amarelo sem cair na esparrela de que essas cores são do Bozo. Não são.
A bandeira é um símbolo fortíssimo de um país e JB, ao usurpá-la com a sua campanha que combate a corrupção com nepotismo e à violência com armamento, nos transformou em anti-Brasil já que deixamos de nos reconhecer nas nossas cores. Perdemos a identidade, ficamos atônitos, mas já chega. Vamos recobrar a consciência, vamos fazer a auto-crítica e, principalmente, vamos nos sentir brasileiros com todas as cores a que temos direito, inclusive às cores da nossa bandeira. 
A NOSSA BANDEIRA DO BRASIL.

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3 respostas

  1. Sensação de” peito lavado” ao terminar de ler , emocionada, sua crônica. Parabéns por tanta lucidez, você põe ” na ponta da caneta”, as certeza e incertezas de muitos. Beijos de uma fã. 😘💞

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