Minhas três princesas

Eu tenho três afilhadas na minha vida. Quer dizer, uma é oficial, eu batizei mesmo, ainda que não siga em nada o que mandava a igreja católica. Nunca levei a bichinha na missa, mas, sinceramente, acho que faço pra ela um favor… Eu mesma não tenho muita paciência pra sermão de padre, gosto mais de ações, gestos, abraços e afetos. As outras duas eu adotei pra mim, são as irmãs da oficial, por quem eu tenho o mesmo amor, que deve ser algo parecido com o que se diz do amor de mãe.
Atualmente tenho uma quase adulta, uma jovem e uma pré-adolescente e eu adoro lidar com essas idades, apesar de não saber nadinha como fazê-lo.
Para começar, mal consigo chamá-las pelo nome, é meu amor, minha pequena, minha princesa, minha branquinha… Tudo assim, como se elas ainda tivessem quatro anos de idade. Mas só que não, elas cresceram, pularam do meu colo e, vez por outra, entram em atrito comigo, brigam comigo, desligam o telefone na minha cara e me dão respostas atravessadas que dói que só, mas faz parte.
Considero a minha relação com elas um grande treino para a vida, daqueles que te fazem lidar com a paciência, com o julgamento do que fazer, com a corda bamba, com a saia justa, com o medo de estar exagerando, com o medo de ser negligente, com a dúvida de ser oito ou oitenta, com o medo da perda, do desamor, com a volatilidade do ser humano, com a impulsividade e impetuosidade dos jovens, com a intensidade linda com a qual se jogam na vida, sem travas e sem amarras, com a vitalidade, com os sonhos, os projetos ainda verdinhos, os planos para um futuro tão, mas tão promissor… E, principalmente, é um treino para lidar com o amor incondicional.
Dia desses uma delas ficou chateada comigo, com razão, e, claro, o motivo não vem ao caso. Resultado, ela chegou de uma viagem longa e ainda não fui conversar com ela, pois quem ama aprende que o respeito com o sentimento do outro requer tempo. Penso nela sempre, com uma saudade grande, mas sempre com um sorriso no rosto, pois ela está ali, linda, feliz e saudável, mesmo sem eu estar por perto.
Mas a verdade é que, a gente vira adulto, mas a adolescente dentro da gente não some, ela ainda está ali, bem vivinha, bem verdinha. A diferença é que a carcaça mais velha não deixa ela espernear, chorar, reivindicar e brigar.
Lembro-me de que, quando mais jovem, era desestruturante para mim ver um adulto chorar, ver um adulto com medo, inseguro… Eu achava que eles eram seres imaculados, cheios de certezas, de segurança e que estavam ali para me proteger, para me mostrar qual caminho seguir, ainda que me fizessem chorar, era o melhor pra mim…
Qual o que?! A única coisa que você ganha com o advento da idade são mais perguntas, porém, a não necessidade de querer todas as respostas, a gente aprende que elas não virão e a gente vai ter que se virar com o que a gente acha, intui, fareja, ou com o que dá no baralho, búzios, whatever.
Pois é, a adolescente que me habita está sofrendo, sim, a distância da minha princesa, igual aquela coleguinha que sofre buylling, mas adulta em que eu habito sabe que teremos tempo, uma vida toda para que tudo volte as boas e para que eu volte a ser a dindinha, que é meio amiga, meio tia, meio legal, meio chata, meio moderna, meio careta, mas completamente cheia de amor por elas.

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2 respostas

  1. Ow ”sobrinha da Lu”, volta a falar com ela, vai! Rsrs Texto lindo, Lu. Tenho uma sobrinha e sou titia coruja; amo minha Clarinha. Bjs :*

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