Os "sem noção" da firma

Ontem, depois de um looooongo dia de trabalho, chego em casa e estou frente à Tv vendo novelas, quando vejo uma mensagem no meu celular. Era um funcionário, às 21h, me perguntando algo sobre trabalho.
Que fique bem claro, aqui: eu acho um saco quem está com o seu tempo 100% disponível para trabalhar ou quem fica querendo mostrar serviço, fingindo que se importa todo o tempo de sua vida com a empresa. Sinceramente, acho tudo uma falsidade.
Não, meu trabalho não é a minha prioridade, nem de longe é o que mais me dá prazer. Gosto do que faço, me edifica trabalhar, mas o que me deixa feliz mesmo é um revigorante banho de mar, um barzinho com minhas amigas, e um jantar a dois com quem eu amo.
Convencionou-se, já há algum tempo, que temos de mostrar total empolgação, motivação e determinação para o trabalho. Até concordo, mas no horário comercial. Depois disso, meu querido, estou 100% off e minha maior preocupação depois das 18h é se chegarei em casa a tempo de assistir minha novela, já que adoro a “das seis”.
Acho muito mais interessantes as pessoas que conseguem ter o tempo certo para cada atividade e são produtivas em todas elas. Acho o máximo quem consegue ter vários assuntos e não somente àqueles que se referem a seus feitos profissionais. Estes são os mais chatos em minha opinião. Dou o maior valor à criatura que é mega bem sucedida em sua atividade e este é o assunto menos comentado por ela.
As pessoas mais inteligentes e interessantes são sempre as mais discretas, pois têm tanto conteúdo, que não precisam ficar mostrando pro mundo o quanto são boas. Meu pai tem um amigo cientista, inteligentíssimo, que só possui dois dentes na boca. A carcaça, a aparência, é o que menos importa, o cara tem tutano e está se lixando para o resto. Assim como o Chico Buarque, ele não está nem aí para o que pensam de sua opinião política, Chico é O artista, e resto é conversa fiada.
Passei muito tempo me sentido inadequada, irresponsável e diferente dos demais por pensar assim. Achava que eu não havia nascido pra trabalhar, só podia, já que não conseguia engolir as filosofias das empresas. Certa vez quase tive um treco ao participar de um treinamento motivacional no qual tínhamos que levar baldes d´água na cabeça se errássemos no jogo. O pior é que todas as mais de 50 pessoas adoraram a experiência, apenas eu odiei. Certamente o problema estava comigo.
Depois de um certo tempo percebi que este problema meu é um lampejo de lucidez (na minha opinião, pelo menos) que nunca vai me deixar sair do que eu acredito ser o mais importante: os laços afetivos, que ultrapassam qualquer sucesso, qualquer promoção na firma, qualquer elogio do chefe e situações afins.
Atualmente eu sou chefe, amanhã posso não ser, mas valorizo meus funcionários responsáveis e que não ficam me enchendo o saco nas horas de lazer, mas sim, que fazem suas tarefas no horário combinado, batem meta e bebem na sexta, vão à praia no sábado e descasam no domingo. Para esses aí, promoção sempre.
Essas facilidades de comunicação promovidas pela tecnologia são grandes responsáveis, mas apenas um vetor para as manifestações da loucura de cada um. Mas isso é assunto para outro post.
Agora tchau que tenho de trabalhar.

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3 respostas

  1. Não levar o trabalho para casa é extremamente saudável e necessário. Em casa, quero ter tempo para curtir minha esposa, meu cachorro, minhas séries, jogos, gibis e livros.
    É o que mais me atrapalhar no meu emprego, como os horários são quebrados, não é incomum ficar o dia inteiro preso ao trabalho. Aos poucos, venho tentando mudar isso, esse semestre promete. Vejamos!

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