Pagu – pelo caminho do meio

pagu

Em tempos de ódio que são os nossos, já começo pedindo desculpas e licença para adentrar em uma seara que não é especificamente a minha, mas que, na verdade, é de todo mundo, porque política é de todo mundo que, minimamente, toma algum tipo de decisão sobre sua vida e/ou a dos outros.

E mais, pra ainda piorar a minha situação do “lado” que eu mais acredito (o esquerdo), mas, como o intuito da minha escrita, deste perfil e deste blog estar no ar desde 2013, é o de fazer refletir e inquietar, dentre outras coisas que mexam com os sentimentos, eu vou falar:

EU LI A AUTOBIOGRAFIA DA PAGU E FIQUEI ENOJADA COM O PARTIDO COMUNISTA: E N O J A D A! Falo do partido comunista de 1930, por aí, mas falo contra qualquer partido cujas ideologias são fanáticas.

“Agora você virou de direita?” Deus me livre e depende. “Ah, então ficou na esquerda mesmo com nojo?” Não e depende.

A verdade é que nos último meses finalmente me caiu a ficha que custou pra cair: a política é uma autogestão de pessoas que legislam em causa própria visando o poder e permeadas por suas vaidades. Aí, vezenquando isso respinga em coisa boa pros eleitores, mas isso é o que menos importa para A Política.

“Nossa, que visão mais desesperançosa!” Pode ser, mas isso é ótimo porque não me deixa ser besta. 

Aqui, uma resenha curtinha do livro “Pagu – uma autobiografia precoce”. Com ideais de igualdade para todos e de uma “gestão proletária”, Pagu – Patrícia Galvão – doou-se ao partido Comunista, à “casta” revolucionária e à ilegal do partido e, para pertencer a este grupo, que era “vendido” como de único caminho para se fazer justiça social no Brasil e no mundo, Pagu doou a liberdade, o corpo, saiu de casa – muitas vezes dormindo em favelas repletas de baratas – doou a convivência com o filho Rudá e sofreu do mais sórdido e nojento machismo com as propostas do “Partido” para conseguir as informações e a confiança de seus “chefes”. Tendo como chefe maior, Stálin.

O livro trata de uma parte breve da sua vida, salvo engano – pois lá não há datas – um período de dez anos, mais ou menos, entre as décadas de 1930 e 1940. A linguagem utilizada por ela é de um relato destinado à Geraldo, seu segundo marido, quase que pedindo desculpas a si mesma por tanto erro. A narrativa traz também a relação dela com Oswald de Andrade, com quem teve um relacionamento tão tóxico e destrutivo quanto fraterno. Sim, Pagu era complexa como qualquer mulher é, ingênua como qualquer uma de nós, frágil, vulnerável, com uma vontade danada de ser alguém reconhecida dentro da causa que acreditava – o bem comum. Mas alguém com uma coragem que pouco vi, que eu jamais teria.

Porém, e é aqui que eu me senti enojada, foi uma coragem direcionada para uma autodestruição, para uma luta política que, claro, tinha uma causa nobre, mas os meios relatados por ela eram sórdidos demais. Basta olhar pros crimes de Stálin que já dá pra saber até onde se chega pelo poder, por ideologias loucas, cruéis. Até onde se pode chegar com tudo o que é “extremo”.

Nunca gostei de seitas, de fanatismo, de amor cego… Fosse por religião, política e até amor incondicional. Não gosto de nada que me tire de um eixo que construo a partir de uma postura de “aprendiz de mundo”, de ler, de ouvir, de perguntar, discutir, questionar… Sempre tive muito receio com grupos de orações, por exemplo. Fico nervosa com aquela terceirização de bênçãos e calvários com Deus que de tudo sabe e tudo faz com todo mundo. Isso me dá um nervoso.

Só que a gente, todo mundo é, gosta de pertencer a um grupo, de ser aceita, querida, etc. Daí que “ser de esquerda” é tido como estar do lado do bem, do justo, dos mais fracos, dos mais pobres. Só que esse discurso, como bem fala Pagu e eu concordo com ela, pode nos tornar meio esnobes, meio soberbas como se só a gente detivesse a compaixão do mundo e todo o restante das pessoas são seres do mal que não estão nem aí pra ninguém. Eu, confesso, estava indo nessa onda e Pagu me puxou de volta pro eixo.

Acho que se eu pudesse resumir a leitura da biografia em uma palavra seria: Cuidado! A causa é realmente nobre, o discurso é lindo, mas nenhuma ditadura, meu amor, vale à pena, e nenhuma valerá. Não tem pra Fidel Castro, nem pra Chaves, nem pra Stálin, Nem para Médice, nem para Castelo Branco, nem pra Hittler e também não tem pra Bolsonaro.

O desencanto com a política, a meu ver, faz parte do amadurecimento, “más sin perder la ternura” e muito menos a esperança de sempre e sempre acreditar que poderemos ir limpando políticos ruins e fazendo ingressar para nos gerir seres humanos melhores.

Amém!

 

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