Para chegar até você

pra chegar até você

Tentei escrever sobre o tão pedante e fora de propósito que foi aquele texto de Washington Olivetto (aqui) sobre o diário de bordo de seu filho turistando com amigos gringos no Rio de Janeiro dos poucos ricos&brancos, no que Uóston Oliveira rebateu muito bem com uma lufada de realidade do que é ser pobre e negro nesse país que castiga quem já nasce castigado por natureza, dada a herança tão miserável que é passada de pai pra filho (aqui). Isso, claro, quando as famílias sobrevivem a balas de policiais contra civis que saem deferindo a torto e a direito em adultos e crianças – a maioria negra e pobre, claro.

Ia escrever sobre o que falou Rancière, que “viver é político” e que, por mais que se tenha a liberdade de expressão de e de Olivetto não ter cometido nenhum crime ao “arrotar seu caviar”, sua riqueza, seu glamour e o privilégio que ele tem, ele cometeu uma ofensa aos milhões e milhões de Jonatans retratados muito bem por Uóston em seu texto de resposta ao infeliz do Olivetto.

Na verdade eu estou até agora com eles, os dois artigos, pululando na minha cabeça. Fico impressionada como alguém pode ser tão pedante e arrogante em pleno ano de 2022, no qual até meu sobrinho de seis anos tem consciência política, como pode alguém ser tão pedante num Brasil tão, e cada vez mais, sofrido. Ainda que o filho dele não sofra, é de empatia que a gente está falando, mas ele não. Nem ele e nem o outro. Eles não!

Eu, como alguém que me presto a escrever na intenção de alcançar alguém que possa refletir – concordando ou não comigo – penso que devo escrever uma crônica que tente dar conta minimamente da quantidade de problemas que tem o texto de Olivetto. Talvez o faça parágrafo a parágrafo pra ficar mais didático tanto pra mim como quanto pra quem me lê.

Mas a verdade é que hoje acordei meio pesada. Não sei se esse peso é o peso que eu sinto desde o final de 2018, quando o Brasil elegeu como seu gestor máximo esse homem das trevas… Parece que tudo é uma imensa sombra e vento frio… Agora veio a “pec do desespero”, o homi desdizendo tudo que prometeu e dando o maior golpe financeiro nesse Brasil… Quando penso nisso chega a me dar angústia e medo dessas novas eleições. Que se concretize esse cenário que está posto pra gente poder voltar a sorrir.

Passei dois dias ausente do mundo. Nesses lapsos eu me esqueço da Covid, essa outra nuvem carregada que há quase três anos chove sobre nossas cabeças. Exaustivo. Às vezes eu queria poder mudar o rumo das coisas, queria poder seguir meu rumo sem sobressaltos, sem dor também. Essa Chikungunya acabou comigo. Dói tanto e o dia todo que tem horas que não sei se é a dor da alma querendo sair pelas minhas articulações e por isso elas dão tantas pontadas a cada vez que me mexo. Choro.

Mas tem hora que é clarão, sol forte, ou lua cheia dispensando postes, “energia lunar” “alumiando” nossos pensamentos que ficam ali quietinhos esperando a razão dar uma trégua nessa mesmice. Vinho, poesia e lua é vida, é gozo, é cura. Música, barulho de chuva e cheiro da terra e do verde quando molha. Brigadeiro e banho de mar, quarar no sol no final da tarde…

Indo e vindo, menos como alguém que sabe, mais como barata tonta, nesses descaminhos “vezenquando” encontro teu regaço. Nessa hora, que ora dura uma vida, ora parece um lugar tão longe, nessa hora é tempo suficiente para a paz e a saudade, pro desafogo e pro devaneio, pra desanuviar e conectar com a pele, com o olho no olho, fugir dessas telas medonhas que tanto nos tiram de nós. Nessa hora é encontro, é despertar poeta, é beijo demorado e lento… Sorrio.

Cansada, mas na luta pra tirar o Bolsonaro, sigo. Espero as esquinas em que te encontre. Espero poder voltar a morar num Brasil mais feliz, ainda que tenhamos tanto a resolver depois que finalmente conseguirmos nos livrar.

A gente vai resolver, eu sei.

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