Qual a música da sua vida?
Minha vida inteira foi pautada por canções. Desde pequena, sem eu me aperceber muito, as músicas e letras me tocavam de forma profunda e iam sedimentando memórias dentro de mim, marcando fases, etapas, histórias, farras, amores, despedidas e alegrias.
Há tempos que venho pensando sobre como meu gosto musical foi mudando ao longo dos anos e, jurava eu, que havia parado, finalmente, em Chico Buarque de Hollanda. Nele que foi chegando sorrateiro e, antes que eu dissesse não, se instalou feito um posseiro dentro do meu coração. Juro que cheguei a achar que nós dois, só nós dois, seríamos felizes para sempre. Qual o que.
Acontece que a música para mim é amor e, por vezes, bandido, daqueles avassaladores, sem sentido, meio ralo meio promíscuo, mas amor daqueles que você simplesmente não controla.
Pois é, Chico, meu amor, eu dei pra ouvir – pior – e gostar de Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, Anitta e, pasme!, Wesley Safadão. É um fim de mundo eu sei, quem me viu, quem me vê.
Logo eu (que nem pensava eu não imaginava… Valha-me Deus, Jorge e Matheus), que durante tantas e tantas festas fiquei sentada com cara de quem não acredita como é que alguém pode dançar ao som de músicas tão ruins. Eu que hasteei bandeira contra a canção trash, contra o forró, o sertanejo universitário, justo eu, tô namorando todo mundo, 99% anjo, perfeita, mas aquele 1% é vagabunda… E como!
Depois de me render, de me aceitar como sou e já meio que passado o trauma, resolvi fazer um passeio pelas músicas de minha vida. Vou ficar mais pianinho para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho. Salve novos baianos!
Tudo começou com meu pai e minha mãe. Papai monopolizava o som lá em casa e troava música clássica e os três tenores, sempre permeados com os sambas de Clarinha (a Nunes, a Diva, que é velha conhecida nossa e eu devo ter aprendido a cantá-la antes de mesmo aprender a falar). Além disso, aos domingo, bem na hora da volta pra casa do final de semana, a rádio sintonizava o “Arquivo de cera” e tome D´alva, Heriberto, Cartola, Dolores e eu devo confessar que O D I A V A. É que criança não sabe p@##$ nenhuma da vida e acha que música de pai e mãe é música de velho. O ó!
Já a mamãe, sempre cantou pra gente dormir. Só que nosso radinho de orelha, meu e do meu irmão, era selecionadíssimo. Ouvíamos Mãe Menininha, ouvíamos Toquinho, Chico, Vinícius de Moraes e canções do nosso folclore. E, com sua doçura, entre um vinil e outro do marido,enchia a casa de Moraes Moreira, Fagner, Wando… Num popular sofisticado que é a cara das nossas férias na Prainha. Uma coisa linda.
Já um pouquinho maior, lá pelos oito ou dez anos, o pop rock nacional: Kid Abelha, Titãs, Paralamas, Nenhum de nós já ecoava nos programas do Chacrinha, no Milk Shake da Angélica e, sem nem me dar conta, eles seriam a trilha sonora que ficaria gravada da minha infância e adolescência.
Agora corta a cena pra aquela fase que a gente nega tudo o que vem de pai e mãe e faz um monte de besteira, pra não dizer “cagada” nessa vida. Mas minhas raízes musicais voltarão com força total em minha fase adulta. Chego já lá.
No início de minha adolescência, entram com tudo os roqueiros nacionais, a Legião Urbana, que me fazia sentir super in com minhas amigas do colégio e, claro, o Axé. Afinal, é preciso amar (a, a) as pessoas como se não houvesse amanhã e eu queria pertencer a um grupo, básico, e vamos combinar que Legião é pho%$ e o Axé de Daniela, chiclete, Asa de Águia e afins era igual o que o sertanejo é hoje. só tocava isso.
Segui, e não sei em que momento da minha vida eu tropecei e caí de cara no sertanejo. Menina, eu me afundei feito porco em lama, feito a gente em final de namoro, numa fossa sem fim. Pra completar, ainda tinha um amor que morava no interior de São Paulo e tudo o que eu queria era ir pra festa do Peão de Boiadeiro em Barretos pra me encontrar com ele. Nunca fui.
Eu era alucinada pelo Zezé di Camargo. Pode? É o amoooooor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim… Eu fui a bem uns cinco show dele, fui pro do Leonardo (toda purpurinada e chorando pelo Leandro), do Daniel e até pro do Xitãozinho e Xororó, que foi no mesmo dia do show do Men at work em Fortaleza e o coitado do meu então namorado foi voto vencido por mim, claro.
Sei não o que me deu nesses anos e eles duraram viu? Até que entrei na faculdade – Comunicação Social – e, com o passar do tempo, é claro, as portas se fecharam pro Zezé, pro axé e pro pagode que vou mencionar só de soslaio porque, né?
Conheci uma galara cult bacaninha, que na época nem era cunhada com esse nome, mas o massa mesmo era ouvir Chico, Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Novos Baianos, Tom Zé e muitos, mas muitos outros. E é massa mesmo, ó. Pra mim, até hoje, não inventaram nada melhor do que essa galera “eixo popular, cult, manifesto, consciente, meio intelectual, meio de esquerda”. É massa.
Mas eu fui seguindo e me deparei novamente, lá pelos idos 2003, com o samba. Uma prima convidou e, depois de muita insistência, depois de um fim de namoro complicado, me rendi a novas festas e novos costumes. Tô lá até hoje. Como bem diz Maria Rita: Eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim.
No samba eu reconheci onde estava adormecida a Clara de papai e o Toquinho da mamãe e todo aquele arsenal musical que eu tinha de bagagem. Acreditem, aprender a gostar de música boa é igual a comer verdura, na infância é difícil, mas depois você adora e como isso faz bem pra saúde :).
Me bote numa roda de samba e você conhecerá a pomba-gira que habita em mim. Eu me acabo e eu renasço numa roda de samba. Canto todas e se não sei eu danço e eu sorrio o tempo todo porque o samba tem poder, é visceral pra mim. Samba (é da) benção e é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe…
Só que agora, aos 35, já meio que na idade na qual as coisas estão meio que sedimentadas na nossa vida, eu dei pra ouvir “feminejo” e “sofrência”??? Meu povo, sei não. Deve ser porque eu tenho tanto amor guardado tanto tempo que só as Maraísa pra me fazerem extravasar.
Ou então, pessoal, a verdade é que a gente nunca está solidificada, nunca tá totalmente pronta e nessa vida a gente não precisa toda hora estar evoluindo, pode andar pros lados, voltar atrás, o importante é estar em movimento e, de preferência, dançado.
ainda estou aqui
Ainda estamos aqui
… Lembro-me de que quando li o livro, tive a sensação de estar lendo algo sobre meu passado, sobre uma história muito difícil, sofrida, mas passada…
Respostas de 4
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Luuuuuuuuuuu, amei essa crônica, como me identifiquei! Acho que tivemos praticamente as mesmas “fases musicais”, inclusive as que passaram (também amava Zezé di Camargo, fui a vários shows… senhooooor!), as perenes (Chico, Samba… fui ao show dos Novos Baianos ano passado e, para minha surpresa, gostei mais do que dO Grande Encontro, rsr, tb maravilhoso!) e as atuais Maraísas e Safadões da vida, kkkk! Amei a frase “aprender a gostar de música boa é igual a comer verdura, na infância é difícil, mas depois você adora e como isso faz bem pra saúde”!!!.
“as perenes (Chico, Samba…)” – Amei :). Que seja eterno, mesmo depois que eu não durar, pois eu espero que meus filhos gostem 🙂
Também espero, elas estão sendo treinadas para isso, rsrsr!