Quando nasceram nossos pais?

Quando nasceram os nossos pais?
Ontem foi aniversário do meu pai e uma tia avó, portanto, tia dele, contou um episódio engraçado que ele viveu aos dez anos de idade. Morri de rir e me despertou o pensamento para a seguinte pergunta: Como eram meus pais antes de serem meus pais?
É muito comum ouvirmos pais e mães falando da gracinha que os filhos fizeram na escola, na adolescência, das suas conquistas na juventude, na fase adulta. Do primeiro neto, do segundo, de como o filho é bem casado e mais um monte de temas que julgamos ser de interesse dos pais, isto é, tudo o que diz respeito aos filhos.
Os pais costumam estar sempre disponíveis para uma conversa com seus rebentos, seja para falar de amor, sofrimento, frustração, vitórias ou pra falar besteira. Estão disponíveis para nos deixar e pegar nos lugares, ajudar com os netos, ajudar a arrumar nossas casas, ajudar com um almoço, com dinheiro e mais com qualquer coisa que solicitemos para estes seres de Deus.
Ontem, na mesma festa, ouvi uma mãe dizer: – É que nós estamos sempre disponíveis para eles, mas não devemos incomodá-los”. Achei de um amor lindo, essa mãe é realmente uma mãe 24h, mas será que os pais têm mesmo de se entregar por completo aos filhos?
Acostumados a sermos o centro das atenções, nos esquecemos de perguntar quem foram essas pessoas antes de serem nossos pais. Quais medos os angustiavam na infância e, até mesmo, na maternidade ou paternidade? Foram bons alunos? Quem foram seus amigos de infância? Onde estão esses amigos? Quais eram suas travessuras e os livros que liam, se liam? Gostavam de ir para a escola? Quem foram seus professores? Quais eram seus sonhos de infância? Realizaram? Quem eram seus super-heróis? Tinham medos de E.T., do chefe, do bicho, de gente?
Se puxarmos pela memória sabemos até de algumas respostas que, poucas vezes quando lhes foi dada a oportunidade de ser mais importante do que o filho, a mãe e o pai nos revelaram.
Minha amiga soube depois de adulta que a mãe dela teve um noivo. Ficou chocada, mas orgulhosa. A outra soube que o pai fumou dos quatorze aos vinte e um anos. Como assim? Papai fumava? Oi?
Você consegue imaginar a sua mãe brincando de bonecas e o seu pai de carrinho? Ou o contrário, será que sua mãe preferia jogar bola às chatices das brincadeiras de menininhas? Consegue imaginar sua mãe no primeiro dia de faculdade ou no primeiro emprego? Já perguntou pra ela como foi?
É a vida deles que pode dizer muito de nós mesmos e, ainda que não diga, são eles as pessoas mais importantes para a gente e deveríamos colocá-los no centro de nossas atenções, em vez de apenas solicitar o tal AMOR INCONDICIONAL.
Isso pode ser um erro dos pais, imposto pela cultura, que mitifica a figura maternal e paternal os proibindo de demonstrar fraqueza, medo, receio, dúvida. Eles têm sempre de estar com a solução para nossos problemas físicos e psicológicos.
Só quando chegamos aos trinta, por aí, quando nossos velhos começam a dar sinais de que não são mesmo aqueles seres superfortes  imbatíveis, é que vemos nascer para nós a pessoa e não a personagem PAI e MÃE.
Ficamos frágeis, com medo, assustados ao vermos quem nos suportou a vida inteira demonstrar que também são seres humanos, cheios de limitações e defeitos como nós e que precisam, e muito, da nossa atenção.
Ainda não tenho filhos, mas adoraria que minha filha/filho se interessasse pelo o que tenho para contar. Quero muito que ela/ele saiba que será a pessoa mais importante da minha vida, mas que existiu uma vida antes dela/dele e que para eu chegar até o meu nascimento maternal passei por poucas e boas e ainda vou passar muito mais, pois nunca estamos prontos completamente para nada. Como bem disse Marta Medeiros, somos imperfeitos com boas intenções.
Portanto, tenhamos mais respeito e compaixão para com quem não foi feita para nos suportar (aqui também incluo os que não são pais, mas que fazem papel de), nem para cuidar dos nossos filhos, nem para aguentar qualquer tipo de grosseria, nem para estar disponível o tempo inteiro para nossas vontades.
Essas pessoas adoram um cinema, paqueram, fazem exercícios, compram roupa, choram, sofrem (e não apenas com o nosso sofrimento, isso também é mito), engordam, emagrecem, adoecem, querem ter um tempo APENAS para si, sem ninguém encher o saco (isso eles jamais dirão), enfim, são pessoas, tais quais eu
e você.
Enfim, eles precisam de nós tanto quanto nós deles e eles também precisam de nossa ausência, tanto quanto nós das deles.
 
Me ajuda aí, Belchior!!!

 

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4 respostas

  1. Que lindo!
    Seria tão bom se a teoria funcionasse na prática… Mas reconheco que os culpados somos nós mesmos que ,as vezes,precisamos nos sentir super-heróis.Bjs

    1. Que lindo!
      Seria tão bom se a teoria funcionasse na prática…Mas reconheço que os culpados somos nós mesmos que,às vezes,precisamos nos sentir super-heróis ou super-heroínas. Bjs.

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