Hoje minha aula foi com a fala de Fernanda Magalhães (vou deixar o link aqui pra você conhecer melhor o trabalho artístico dela). Te peço para que tente não julgar, dispa-se do seu preconceito e se ligue na arte e no protesto. Ela é gorda e, segundo ela – e a gente sabe disso – o corpo gordo da mulher é um corpo que não deveria existir.
Todo mundo é fiscal do corpo da mulher gorda. Se ela engorda a mais, se ela está comendo doce, se ela está comendo alface, se ela usa roupa colada, se ela usa roupa frouxa demais e não tem vaidade, se ela tem o rostinho bonitinho, se ela não se cuida, enfim… O corpo da mulher gorda é um acinte à sociedade.
Até a Marília Mendonça sofreu pela gordofobia, palavra que só entrou no dicionário recentemente, mas que o (pre)conceito já impera há muito tempo. Nem Marília Mendonça foi poupada em seu obituário.
Fora o mundo, tem ela mesma, a mulher gorda que, coitada, tenta a todo custo caber num manequim 38, deixando de comer, de beber, de ser feliz. Pensa que não vai encontrar quem goste dela, se coloca nesse lugar de excluída, se deprime, olha para as amigas magras e, de tão triste, se atraca com o sorvete, mas cheia de culpa.
Como eu sei disso? Eu fui uma criança gordinha. Se você olhar as minhas fotos vai ver que eu era a coisa mais fofinha desse mundo, tão linda, com covinhas, mas, acredite, eu não me via assim, uma fofinha linda e até hoje isso me vale neuras.
Acontece que a Fernanda Magalhães usa a arte dela e o corpo dela para combater a gordofobia. E numa de suas performances – a Graça Crua – ela sobe num banquinho no qual ela precisa sentar, dançar, dormir… ou seja, ela precisa se enquadrar com o seu corpo grande num banquinho minúsculo. Tudo dói, disse ela em sua fala. No final da performance, para a catarse de todos, ela quebra o banquinho com uma marreta deste maldito.
BINGO!
De qual banquinho você precisa se livrar. Qual banquinho, meu bem, você precisa marretar até quebrar?
Pense bem. O banquinho pode ser um padrão estético, um comportamento que te cobram, um relacionamento abusivo, um emprego que te deprime e não mostra o teu potencial, uma violência sofrida em casa…
Qual banquinho você precisa destruir?
Um amor não correspondido, alguém que não se prontifica a estar do seu lado, uma amizade que te suga e não se doa, uma vida de aparências, um sonho que está longe e precisa ser alcançado, o medo, o rancor, o ódio?
Viver, infelizmente, ou não, é quebrar banquinhos, é matar o “Anjo do lar” de que falou Virgínia Wolf, é parar de tentar pertencer a tudo, a se enquadrar a todos, principalmente nós mulheres que tentamos nos enquadrar num padrão que só mesmo uma boneca inflável – pouco inflada, claro. Como é que dá pra ser eternamente jovem, sem rugas, sem cabelos brancos, magra, sem pelos, sem celulite, sem estrias, não falar palavrão, não falar alto, ser temente à Deus… A lista não para.
SUGESTÃO?
Quebra a p@##$ desses banquinhos todos. Que se danem os donos dos banquinhos. Que se lixem quem tenta ser juiz da sua vida e te colocar sentada, confinada num banquinho. De confinamento, basta este último ao qual fomos obrigados a passar por causa de vida ou morte. Chega!
Se quiser engordar, engorde, mas nunca deixe de ir à praia. Se quiser namorar, casar, namore, case, mas não se acorrente, não se submeta, acredite que ele vai aprender te amar pela sua autonomia. Se não aprender, chuta bem longe esse banco, garota. Se te querem sem nenhum “defeito”, ou melhor, sem nenhuma normalidade, já que somos normais em nossas diferenças de corpos e jeitos, mas se te querem num padrão que nem existe, marreta o banquinho com toda a força.
Do lado de fora desse banquinho minúsculo, tem colchões largos, tem jardins inteiros, tem um mundo lindo esperando por você ser você por inteira.
Hoje, com a Fernanda Magalhães, eu fiz anos de análise. Como venho fazendo há anos, tenho engolido meus conceitos equivocados, meus preconceitos, os tenho reformulado. Tentando quebrar banquinhos de botox, de tinta de cabelo, de balança pesando pouco, dessa calça apertada, desse banco apertado. Quebrando banquinhos mesquinhos, que não enaltecem outras mulheres, que não fortificam e dão suporte a outras mulheres.
Na minha trajetória de vida, o que eu tenho quebrado de banco tanto me deixa cheia de manchas roxas como me faz crescer e muito como pessoa, como mulher.
E você? Qual banquinho precisa quebrar?