Retrospectiva 2020: o que era pra ter sido e o que de fato foi

Impossível chegar dezembro e a gente não começar a fazer uma retrospectiva do que foi o nosso ano que vai chegando ao fim. Se já era assim em anos normais, imagina nesse.

Esse ano a retrospectiva é estranha porque não é baseada em fatos que ocorreram, mas nos que deixaram de ocorrer, no que era pra ter sido e no que de fato foi, que – não sei na sua vida – mas na minha não foi quase nada. Digo quase nada de bom, porque de ruim, tenho uma lista gigante.

Conversava com minha mãe que agora, por esses dias, era pra eu estar chegando de férias em Fortaleza depois do primeiro ano do doutorado no Rio de Janeiro. Teria pela frente três meses pra curtir papai, mamãe, tomarmos uma cervejinha costumeira às quintas, sábados… Três meses pra curtir muito o Nelsinho, brincar, brincar, brincar… Ir pro samba com a Bia e, depois, quando começasse o pré-carnaval, me juntar ao bloco de todo mundo e irmos pro meio da praça, da rua… Depois carnaval. Enfim, a vida boa e normal de outrora.

Que nada! Cheguei à triste conclusão de que neste ano era pra eu ter ido morar no Rio e alugado um apezinho no Leblon e terminei o ano tomando um ansiolítico e morando no Cocó (que gosto, diga-se de passagem, mas o projeto inicial era o Leblon, o Leblon. Pertinho da praia, olhando pro morro Dois irmãos, andando pra lá e pra cá nos botecos, livrarias e cafeterias, igual nas novelas do Manoel Carlos…).

Faça você esse exercício (ou nem faça pra não sofrer): esse ano era pra ter sido___________________ e foi____________________. Se o seu saldo for positivo, me diga em que planeta você habitou que eu quero alugar um apezinho por lá. Pode até ser que seja melhor do que o Leblon.

Você olha pra trás e dá um misto de alívio por ter chegado até aqui, ao mesmo tempo em que não quer nem se lembrar por tudo o que passou. Pelo medo, pela angústia, pelo confinamento, pelas brigas e mais brigas, por lavar mil vezes as mãos, as compras, usar a tal da máscara, os pesadelos nos quais se saía sem máscara (tive vários), achar que estava com sintomas de Covid quase todos os dias, só porque deu um espirro, uma tosse (eu mesma fiquei três semanas direto sem espirrar e tossir. Me controlava, não espirrava nem a pau com medo de ser Covid).

Você olha pra trás e não encontra aquela viagem, aquela mudança de casa, aquela sala de aula na PUC do Rio, na Gávea (desculpem-me, estou obcecada com o fato de não ter podido morar no Rio neste ano, tô p. da vida, na verdade, frustradérrima), aquele investimento novo, não encontra mais a empresa que faliu no meio dessa jornada difícil, você olha pra trás e não encontra a sua paz, a sua sanidade mental que, agora, dá sinais de exaustão, estresse em grau mil por ter dado conta de tantos imprevistos, um atrás do outro e você ali, e pior, tem gente que não encontra as pessoas. Mais de 170.000 famílias que vão olhar pra trás e não vão encontrar as pessoas que ficaram no meio do caminho pela Covid, fora as outras doenças que também foram levando os queridos nesse ano difícil.

Olhar pra trás e ver um ano em que quase nada foi bom, um ano perdido. Um ano que exigiu tanto da gente, tanto, e que entregou tão pouco. Um ano borrado, nebuloso, um engodo. Um ano torto, doído, feio. O pior ano da vida na vida de muita gente. Acho que na minha, até agora, foi.

Um alento: se você está lendo esta crônica, você é uma vitoriosa (o)! Parabéns! Seja como for que o seu ano esteja terminando, você pode estar completamente chamuscada (o), mas é fato que você pulou – ainda está pulando – essa fogueira gigante chamada 2020 que tudo queimou, não só a Amazônia.

No horizonte, vemos países que já vão começar a vacinação nesta semana e isso aquece o coração igual mensagem do crush no meio do dia… ou da noite. No horizonte, vemos que Joe Biden derrotou o Trump e parece que o ódio começa a arrefecer de alguma forma. No horizonte, o Brasil sem planos contundentes de vacinação e isso é de desesperar, mas, ao menos, sabemos que é verdade, que a vacina existe, que a ciência funciona e que a Terra não deve mesmo ser plana, e, sim, redonda.

Ainda tem chão. Se chegou até dezembro, não esmoreça. Falo isso pra você enquanto grito para mim, pois ainda vou amargar mais um semestre de aulas on-line em Fortaleza e não no Rio de Janeiro. Nada de Leblon, nada de Flamengo, de Gávea… nada.

Mas o importante é ter saúde. Física e mental. Por isso perseverarei no ansiolítico.

Beijos direto do Cocó.

Lu.

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