Síndrome de nós mesmos

Estou lendo o livro da Olivia Byington – O que é que ele tem – que fala da sua trajetória de vida ao lado de seu primeiro filho, o João, portador da Síndrome de Apert.
A história, que tem tudo para ser uma daquelas que te faz chorar de pena do início ao fim, ao contrário, é um relato de uma vida movida a coragem e amor. Ingredientes, os quais, são os mais importantes pra gente encarar essa jornada que é viver.
O caminho da Olívia não foi fácil. Seu filho passou por muito mais de dez cirurgias para corrigir desde o crescimento do cérebro até os dedos das mãos. Vejo mães sofrerem porque os filhos têm uma febre e não consigo nem dimensionar o que a mãe do João sentiu. E se não foi fácil pra ela, imagine para ele que sofrera na própria pele tudo isso.
Contudo, já chegando quase ao final do livro, pude perceber que a maior dor, a maior luta, o que mais maltrata não são os sintomas da síndrome do João, a de Apert, mas o sintoma da Síndrome das Pessoas.
Refiro-me à doença que temos e que nos torna incapazes de aceitar as diferenças. Somos preconceituosos, arrogantes, insensíveis, prepotentes ao julgar o próximo pela aparência, por um gesto aqui, um trejeito ali. Somos doentes em fase quase terminal em rejeitar o que não é espelho, somos Narcisos. Uns mais, outros menos, mas todos somos.
Achamos que o “diferente” é defeituoso e, como tudo o que tem defeito, queremos jogar fora.
Mas o que é ser diferente?
Diferente é ser gordo em um mundo que cultua a beleza? Diferente é estar solteira quando já se está na idade de ter filhos? Diferente é estar casada, cheia de filhos, e numa infelicidade sem fim de uma união fracassada? Ser diferente é amar alguém do mesmo sexo? É largar um trabalho enfadonho para buscar se encontrar na Índia? Diferente é pintar os cabelos de roxo e furar um piercing no nariz? Diferente é optar por não ter filhos? Diferente é gostar de música clássica aos 13 anos de idade? Diferente é ser ateu?
Ou seria diferente, nos dias de hoje, aquela que acredita em amor infinito e quer casar de véu e grinalda na igreja? Ou o cara que vai à igreja todos os domingos pra falar com Deus? Ou ainda, aquele que se compadece da dor do outro e doa seu tempo num trabalho voluntário? É diferente quem adota uma criança? Será que é diferente quem lê para os cegos, quem trabalha honestamente, quem só anda dentro da lei?
Diferente, na verdade, somos todos, uns dos outros, já que eu sou completamente diferente de você. Só existe uma amostra de cada um de nós, portanto, somos todos absolutamente distintos. Somos brancos, pretos, pardos, loiros mulatos, cafusos, confusos. Somos altos, baixos, do Brasil, da Síria, de Nova York. Somos bons, maus, generosos, egoístas, mentirosos, simpáticos…
Somos muitos, somos um pouco de tudo e, por sermos assim, tão diferentes, é que temos a obrigação de nos entendermos todos iguais, perante a lei, aos direitos e aos deveres.
Somente deixando de achar feio o que não for espelho, é que poderemos nos curar da pior das Síndromes, a que mais nos mata e destrói o próximo: A Síndrome de sermos nós mesmos em nossa pior versão: a do preconceito.
E pra terminar, uma canção linda, lá da minha infância, que tem tudo a ver com o tema. [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=ae1uMPWqyDA[/youtube]

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