Sobre a angústia e a Tati Bernardi

Fone: Escreve "Angústia" no Google
Fone: Escreve “Angústia” no Google

Há algum tempo eu venho me perguntando se o que eu escrevo é realmente interessante a ponto de muitas pessoas se interessarem por isso, a ponto de algumas quererem pagar de alguma forma por isso, a ponto de eu poder tirar, um dia, algum sustento disso tudo que eu escrevo.
Em grande parte das vezes, ainda bem, mesmo eu sendo essa virginiana extremamente autocrítica, eu gosto das coisas que eu escrevo, mas isso não me impede de ficar com a pergunta do primeiro parágrafo atormentando as minhas ideias.
Me pergunto se o que eu escrevo é muito romantiquinho, ou é muito autoajuda… Se for, estou sendo uma fraude, porque não sou muito romantiquinha, apesar de ser romântica e autoajuda passa bem longe das coisas que de fato me ajudam. O que me ajuda mesmo é profundidade, é ferida aberta é gente que se arrisca se mostra, se entregar e não quem só fica dando a receita.
Tenho sérias desconfianças de que as pessoas que escrevem crônicas sobre o que pensam e sentem são as que mais sofrem nessa vida. Aquilo que vai pro “papel” não é nem a metade do tormento que passa por dentro, mas é tanto, é tanto pensamento de agonia, que brotam algumas pérolas que terminam por tocar, de um jeito ou de outro, o leitor, já que, apesar de cada um sentir de alguma forma os temas referentes a amor, frustração, angústia, medo, raiva, paixão, etc, isso aí é universal e é pra todo mundo.
Só um adendo, essas pessoas que escrevem também (tipo assim: eu) por terem o pensamento totalmente desorganizado (pra quem vê de fora, claro. Quer dizer, ainda bem que ainda não descobriram uma forma de ler pensamentos, eu estaria literalmente pelada e ferrada!) acaba por escrever frases longa demais, confusas, ideias truncadas porque não é fácil organizar o caos que se passa por dentro, que pode ser desde “qual o doce que eu vou comer hoje pra fugir da dieta” a “será que essa dor no meu joelho é câncer?”. Tudo isso em fração de milésimos de segundo entre um e outro, ou ao mesmo tempo mesmo.
Daí que um dia, na sala de aula do meu curso amado,  o TOCA, lá no Rio (minha cidade amada) o professor, ninguém menos que Marcelino Freire, vem me dizer que eu preciso expor mais a minha dor e, cara, isso dói. Eu já me considerava tão doída nos textos e ainda vem ele me pedir mais? Cara, até chorei. Detesto melodrama, mas me senti tão desnudada e ao mesmo tempo, tão incapaz de externar minha dor, que fiquei meio sem me conhecer.
Mas continuando. Daí que eu comprei o livro da Tati Bernardi – Depois a louca sou eu – e eu nem sei se eu te indico ou não. O livro é uma ansiedade só. Eu costumo ler a noite, mas tenho ficado tão abalada com medo de que a ansiedade seja contagiosa, que estou trocando os horários da leitura pra não ter sonhos ruins.
Fonte: Escreve "Tati Bernardi" no Google
Fonte: Escreve “Tati Bernardi” no Google

ELA SOFRE! A TATI SOFRE PRA CARA…MBA! A vantagem é que ela está conseguindo fazer dessa porra toda que deve consumí-la por dentro num grau que o espírito dela deve estar com uns setenta anos de saúde, tadinha, uma fonte de renda. Tati é uma escritora e tanto, é roteirista de novelas maravilhosas e filmes também. E tudo isso porque ela sofre.
Porque eu já falei, só as pessoas que sentem profundamente é que conseguem ter a capacidade de entender a dor do outro e, dessa forma, escrever de modo que o outro se identifique. Resumindo, só quem sente profundamente consegue ter empatia e isso tem faltado na humanidade.
E ter empatia dói pra caramba, porque acarreta você sentir a dor do outro pra tentar se colocar no lugar dele. Mas também por te fazer sentir a emoção do outro  se emocionar junto. É uma doideira, a empatia, mas é legal que só, ó! Pratique!
Mas voltando à Tati Bernardi, que foi ela quem me motivou para esta crônica, apesar de não parecer porque eu já falei de muitas coisas e pouco dela, cara, a Tati é rainha. Tem que ter muita coragem pra se revelar daquele jeito.
Todo mundo tenta esconder o seu lado que considera podre, disfarça até uma dor na lombar, uma crisezinha financeira, um parente doente, um problema em casa, essas coisinhas que todo mundo tem, que todo mundo sabe que todo mundo tem, mas que o povo só quer mesmo é brilhar e fingir que está tudo certo.
Pois a Tati não, ela mete o dedo na ferida e roda, só que é na ferida dela. Fala das crises recorrentes de pânico e de tudo que isso acarreta, desde os “vexames”, que pra mim nem contam, até a tonelada de remédios que a pobre toma pra se aguentar. Fala das reuniões em pânico, das viagens em pânico, dos pensamentos em pânico, de namoros em pânico, de amizades em pânico… É de dar dó. Eu fiquei com muita pena.
Fiquei com pena porque me identifiquei também, só que é como se eu estivesse tomando coca cola e ela absinto. Ela sofre muito mais, eu acho. Ou então ela conseguiu se expor mais, ela conseguiu ser menos disfarçada do que eu. Ela teve menos medo de encontrar as pessoas na rua que te olham com cara de preocupada, quase que dizendo: calma, vai ficar tudo bem.
E vai ficar, sempre fica. Se tem uma coisa que o angustiado acredita é que um dia aquilo tudo vai passar. Mas demora, pra uns até mais do que pra outros. Mas passa.
Vou encerrando por aqui, porque já falei demais e vou ficando bem felizinha porque antes de começar a escrever essa crônica eu tava bem preocupada com um exame de sangue que estava na cara que não ia dar em nada e de fato, não deu.
Ufa!

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