Sobre a nossa condição

Tá tudo bem, tá tudo certo conosco. Coração pulmão, fígado, pâncreas, cabeça (refiro-me à massa cinzenta, porque com os pensamentos… Só Deus sabe!), além de pernas, joelhos, ombros, etc, tudo funcionando na mais perfeita ordem.
Até que chega um dia que o corpo pede pra parar, não importando cor, credo, raça, religião, orientação sexual ou política e até a idade.
É condromalácia, virose, cirrose, dor de cabeça, de barriga, gastrite, Parkinson, HPV, HIV e sei mais lá o que, mas a realidade é que o corpo pára. É hora de médico, vários, exames de sangue dos mais diversas siglas, ressonância, raio x, biópsia e mais uma infinidade de buscas em nossas vísceras, como se escondêssemos um demônio em sua versão mais tétrica e ele precisa ser banido do nosso corpo.
Parada, eu, num laboratório de análises clínicas, com mais umas vinte pessoas para fazer exames de sangue em busca do que me faz doer, há dez anos, os joelhos, penso sobre a condição de estar viva.
Enquanto estamos bem nos ocupamos em nos preocupar e nos estressar com o trabalho, com o marido, com os filhos, a corrupção, a falta de grana, a falta de sexo, com o trânsito caótico, com a segurança e por aí vai. Vamos atropelando o dia-a-dia com a cabeça a mil e o coitado do corpo tendo de dar suporte ao excesso de adrenalina que depositamos no pobre com nossas inquietações.
Mas a natureza é implacável em nos fazer PARAR literalmente pra pensar, para relaxar, ainda que o motivo pareça um descanso às avessas, no caso de uma doença, mas quando adoecemos focamos nossas energias na recuperação, é uma preocupação concreta e, por um período, deixamos nossa mente ocupada apenas com um problema.
As questões mundanas e abstratas ficam pequenas frente ao que nos acomete realmente. Diante do susto com a notícia de que algo ameaça a nossa vida juramos nunca mais sofrer por isso, se estressar por aquilo, brigar com ele, até que recobramos a nossa saúde e, carentes de algo que nos distraia, buscamos nos entupir de preocupações novamente.
Estranho o ser humano, não? Busca ter saúde para curtir a vida, mas quando a tem inventa um monte de coisinhas para se apoquentar. E assim levamos nossa rotina, entre obrigações e limitações sem nos darmos conta de que o período do meio, este longo ou breve entre a vida e a morte, um dia acaba. Esquecemos de que viver é muito mais do que cumprir metas ou esperar pelo futuro, mas, sim, se distrair com o que temos pra hoje que já tá de bom tamanho.
No meu caso, posso encarar hoje como um dia ruim, cheio de exames pra fazer, ou como um dia chuvoso e gostoso, o qual eu tirei pra cuidar de mim. Opção 2 será a minha escolha.

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