Sozinha em São Paulo

Semana que vem vou à São Paulo sozinha.
– “Mas o que mesmo você vai fazer em São Paulo?” Perguntou-me o marido.
– “Você vai trabalhar lá? Indagou minha mãe.”
– “Eu bem que podia visitar umas empresas mesmo.” Falei eu comigo mesma para justificar minha ida a uma cidade que quase ninguém escolhe para passar as férias.
São Paulo é para as férias como nós somos para a nossa vida corrida: é bem estranho andar por lá sem ter um propósito, um objetivo claro, ainda que sejam os de compra, gastronomia e cultura. Na vida também é assim, a gente sempre tem que estar mostrando para nós e pro mundo a que viemos e o que pretendemos.
Contudo, eu não tenho nenhuma justificativa, a não ser uma vontade que me dá de vez em quando de sair por aí sozinha, meio sem rumo, meio sem prumo, sem dono… Apenas vasculhando e fuçando o que me interessar. E São Paulo é perfeita para isso.
Em Sampa você é literalmente mais um no meio da multidão. E que multidão! São Paulo te dá a chance de ser anônimo, de ser só você mesmo, consigo mesmo, com seus pensamentos, sentimentos, angústias, medos, alegrias, saudades, paixões…
Parece que você anda pela cidade, querendo devorá-la, mas é ela quem te engole com tanto concreto e tanto arranha-céu. Não se assuste, segue manso e vá em frente.
Ir à São Paulo é Viajar pra dentro.
Apesar da aparência de durona, Sampa sempre vai te oferecer um acalanto, um dengo, um carinho, seja em forma de um delicioso bistrô na vila Olímpia, ou numa padaria divina nos Jardins, num ateliê qualquer da Vila Madalena, ou numa natureza exuberante do Parque Ibirapuera. Nesses recantos parece que São Paulo fala baixo, toca bossa-nova e enche nosso coração de amor. É quase um “Ufa!” em meio ao caos.
A cidade também te joga lá pra trás na história, com a belíssima Estação da Luz e com o Mercadão Municipal, que, mesmo com dimensões continentais, como tudo naquela cidade, traz um aconchego da simpatia de um vendedor de frutas, ou de vendedor de um queijo incrível, ou de peixe, ou do que for. Uma simpatia, gente que te olha no olho e sorri sincero. É, São Paulo surpreende.
À noite, quando tudo pode parecer mais sombrio, arriscado e nebuloso, São Paulo se abre em uma explosão de cores, sabores, culturas, festas, teatros, cinemas, etc, etc, etc. As opções nas noites da terra da garoa são de enlouquecer.
São Paulo é o improvável que deu certo, que deu muito certo, e ela é assim até hoje. Não se sabe ao certo porque se gosta, mas a verdade é que pra lá sempre se retorna. Há muito o que fazer em São Paulo, ainda que seu objetivo seja “nada pra fazer”.
Mas uma das coisas que mais me fascina nessa cidade enorme é a oportunidade de não precisar estar tão feliz assim. Uma chance que se tem de ser nostálgica, séria – São Paulo é séria – contida, sem que para isso você precise se justificar para si ou para o mundo porque não está na vibe mais positiva.
São Paulo é tempo cinza, diferente do Rio e de Fortaleza, que faz sol direto e, sinceramente, com sol e praia, deveria ser proibido ficar triste.
Porém nossa alma não entende assim. Pode estar sol lá fora e cinza por dentro e é bom a gente se deixar levar por um período de reflexão. Faz bem, faz crescer, faz pensar em como sair dessa e pode até gerar novas e boas ideias.
Acho que São Paulo representa meu lado negro, mas um lado que não quero abandoná-lo por completo, pois ele é pedaço de mim, pedaço de você, todos temos.
E têm vezes que essa parte quer emergir, quer sair de férias e quer me levar junto. Pois lá se vamos nós, eu e meu lado sem sol, sem praia, mas que é interessantíssimo, inspirador e muito desafiador.
Precisa de mais motivos para ir à Sampa?
Não, né?

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