Tô neutra

Já passa da meia noite e eu ainda não postei a crônica de quarta.
É que toda vez eu preciso de uma inspiração pra escrever. Pode ser uma bem grande, como aquelas que dilaceram o coração, pode ser uma que me deixa eufórica, feliz, instigada, triste, machucada… Enfim, algo que movimente a alma, o coração e os neurônios aqui por dentro.
Mas hoje não tinha nada muito assim me remexendo. Quer dizer, até tinha, mas era de um jeito de diferente.
Aquilo que parecia machucar muito, doía menos, aquilo que me deixava pra baixo, já não me abala tanto, aquilo pelo qual eu esperei por muito tempo, eu já nem tinha tanta pressa assim que chegasse. Os planos para o futuro parecem estar mais lá no futuro do que agora no presente, resolvi tocar o barco com o que tenho para hoje, que já é coisa demais e coisa boa demais. E o passado, esse sim, que sempre me remói as ideias, parece que começa, bem aos poucos, ser domesticado.
Descobri, então, que eu estou neutra, ph neutro, nem muito doce, nem muito ácida, nem oito e nem oitenta, nem pegando fogo e nem morrendo de frio.
Não, não estou morna, odeio coisas mornas, falta de perspectiva, mesmices e vida medíocre acostumada.
Porém, nem tudo o que é neutro precisa ser sem graça, muito pelo contrário, pode ser ótimo.
Um banho de mar num sábado à tarde, uma noite com um bom livro, um bom vinho, ou uma boa e antiga companhia. Uma conversa deliciosa com pai e mãe, um reencontro com seu irmão. Meia hora ao telefone com sua prima querida, a qual você mal tem tido tempo de ver, uma reunião legal com sua equipe, um chocolate no meio da tarde, um pôr do sol, um passeio de bike para admirar como sua cidade é bonita…
Isso tudo e muito mais é o que acontece enquanto estamos ansiosamente buscando sentido para a vida, enquanto estamos buscando sair daqui para chegar sempre mais longe, enquanto acreditamos que só seremos felizes quando isto ou aquilo acontecerem, quando ou este ou aquele nos quiser, quando tudo entrar nos eixos.
Veja bem, QUE EIXO? Desde quando existe eixo nessa vida? Desde quando existem regras e receitas para o melhor caminho? E desde quando o que parece ser o melhor caminho, aquele que você fica dando murro em ponta de faca, é de fato o seu melhor caminho?
Pois é, por falta de força, ou de jeito, eu me neutralizei. Tô administrando o dia-a-dia que já está me dando um trabalhão, já que vou colocar aparelho fixo amanhã e meus dentes já doem que só e ainda tenho dois exames médicos para fazer.
Vou seguir por mais uns dias nessa neutralidade, rezando para que a minha ansiedade não saia atropelando tudo. E rezando também para que a vida já, já dê uma nova sacudida, porque, afinal, ninguém é de ferro, né?
Mas, se parar, enferruja.

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2 respostas

  1. Lu, esse texto me definiu bem… Inclusive, me emocionei! Passamos tanto tempo buscando um sentido e esquecemos de desfrutar da simplicidade dos momentos. Tem uma frase no filme da Amelie Poulain que é mais ou menos assim: ”A vida é bela apesar de tudo…” Resume bem a reflexão da sua crônica. Hahaha Amei (como sempre) Beijitos, Lu! May God bless you! :*

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