Todos temos limites: pais e filhos

Meu pai vai a uma consulta rotineira amanhã e liguei pra ele hoje:
– Pai, amanhã a gente vai ao médico, né?
– A gente quem?
– Eu, o senhor e a mamãe.
Ele, então, meio gaguejando, disse:
– Não precisa ir, não. Eu não gosto, não!
Papai sempre rejeitou a companhia dos filhos em consultas médicas, mas foi a primeira vez que falou: – EU NÃO GOSTO, NÃO!
Após um rápido susto, percebi que simplesmente adorei ter ouvido isto do meu pai. Foi libertador!
Fomos educados, pais e filhos, a acreditar que o amor entre ambos é incondicional e a entrega para o outro tem de ser total. Temos de estar 100% disponíveis um para o outro para provar a imensidão do nosso amor. MAS NÃO É ASSIM QUE A GENTE SENTE! Ainda bem!
Antes de sermos pai e filha – ou pai e filho ou qualquer variação sobre este tema – nós somos pessoas que temos jeito, gostos e vontades distintas, ainda que possuamos uma infinidade de semelhanças, como música, viagens, boas conversas e que a coisa mais preciosa do mundo seja a nossa companhia.
O amor é imenso, mas a nossa vida é maior e têm horas (ainda que poucas) que simplesmente não cabe pai na vida de filho e nem filho na vida de pai, muito menos netos na vida de avós e vice-versa.
Mais difícil ainda dar um limite na relação é entre mães e filhos. Parece que a obrigação simbiótica é ainda maior e nem nos damos conta quando estamos abusando da boa vontade de ambos.
Vejo um monte de gente que deixa netos com avós por dias e dias e ainda reclamam que os avós mimam. Vejo mães jovens completamente exaustas e descuidadas de si, pois dizem que os filhos não dão tempo par ela viver sua vida. Vejo ainda, o que tenho horror, vários adultos em uma casa com a TV ligada em um canal infantil, insuportável, só porque a criança vai chorar se mudar a sintonia.
Por outro lado, vejo pais e mães que se acham no direito de direcionar a vida das crias, mesmo os rebentos já com idades avançadas, de trinta, quarenta anos. Vão palpitando e buscando imprimir suas experiências, nem sempre bem sucedidas, na vida alheia sem se darem conta de que a história do outro, ainda que este outro seja parte de nós, tem de ser contada e assinada por ele, com todos os erros, desilusões e alegrias que vão surgir no caminho.
Por isso, existem momentos nos quais os envolvidos precisam de uma basta e precisam dar um basta também na invasão do outro. De algo como “daqui você não passa!”, ou “essa seara é minha!”; e isso é importantíssimo para manter uma convivência saudável pro resto vida.
Nós não somos sempre bem-vindos na vida de nossos pais, eles precisam de respiro, eles também têm suas questões que nem de longe perpassam todas pelos filhos. Já os pais, precisam entender que um monte de conselhos pode levar uma pessoa a desconhecer-se, a não saber de seus limites, desejos e sabores da sua vida.
É claro que o período em que amamos a convivência dessa relação é bem maior do que os momentos necessários de isolamentos uns dos outros. Estou falando aqui deste curto espaço de tempo tão nobre, que nos individualiza enquanto seres humanos.
Encerro esta reflexão bem mais “adultecida”. Ciente de que da minha vida cuido eu e da vida dele cuida ele do jeitinho que a gente quer, ainda que saibamos que podemos contar um com o outro para o que der e vier.
Obrigada, pai, pela sua sinceridade e por me apresentar seu limite de uma forma tão clara e, por isso, tão linda!
Serei eternamente sua “cabrita” e o senhor o meu paizinho e, na mesma intensidade, serei sua amiga e estarei aqui sempre e somente quando o senhor precisar.
Te amo!

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