Trabalho

Meu marido trabalha numa multinacional.
Nesse final de semana, trabalhou sábado o dia inteiro em outra cidade, retornando somente no domingo para casa.
Hoje, domingo, às 19h, pedi pra que ele deitasse um pouco comigo, precisava conversar e desabafar – adoro conversar deitada – só que ele tinha de trabalhar. Tem sido assim nos últimos anos, trabalhos longos, viagens de trabalho, e-mail de trabalho, ligações de trabalho e eu, que também trabalho, faço de tudo para não sucumbir assim.
Lá está ele no computador e eu aqui pensando, e desabafando com vocês, para quem esse esforço todo vale a pena?
Aonde queremos chegar, individualmente e coletivamente que tanto esforço tenha de valer um mísero final de semana em família?
Qual fortuna, qual desenvolvimento de um país, de uma nação, do mundo inteiro, vale perder um dengo, um abraço e um tempo ao lado de quem se ama?
Hoje, pela manhã, dois funcionários de minha equipe, que fazem aniversário no mesmo dia, tiveram de acordar às 5h da manhã para realizar um evento do qual nossa empresa estava participando e eu tenho certeza de que eu sofri mais do que eles por tê-los designado para esta missão. Só não pude demonstrar. Fiquei pensando que certamente perderam o café da manhã na cama que os namorados costumam fazer em dias especiais, como esse, perderam a mãe acordando para dar o presente, como a minha fazia quando eu morava com ela, perderam o sono gostoso de quem está crescendo, mas ainda com vinte e pouquinhos anos, e descobrindo o mundo… Perderam tempo por causa do trabalho.
Eu sei que posso estar exagerando, eu sei que minha forma de encarar a vida é diferente e sei que pode até parecer meio preguiçosa. Não é! Acho muito legal estar envolvida em um projeto que nos estimule, estar abraçando uma causa que faça sentido pro mundo, mas, sinceramente, nenhum projeto para mim é mais valioso do que o tempo que tenho com os meus.
Certo dia, eu estava em uma palestra e me perguntaram o que era felicidade para mim. Respondi que felicidade era ter tempo para ficar de papo furado com a minha mãe numa segunda-feira à tarde, só ouvindo e contando causos de nossas vidas, que é o que de mais valioso temos. A palestrante imediatamente falou que estudo de Haward, apontou que estar com a mãe era uma das três razões principais para deixar alguém feliz. Bingo! Ponto pra mim, e eu nem precisei estudar em Haward pra saber dessa obviedade.
Penso que as pessoas sofrem da síndrome de Deus – SDD – e pensam que serão eternas, que tudo nunca passará e que terão, no futuro, todo o tempo do mundo para viver o que não estão vivendo agora.
Heloooo! Não tem! A vida não tem botão de voltar, não dá para refazer, o sorriso perdido hoje do seu filho ao ver, pela primeira vez, uma borboleta não vai se repetir e a babá, se gostar muito dele, se lembrará para o resto da vida dessa emoção. Injusto, não?
Está mais do que na hora de a gente aprender a dosar: menos trabalho e mais vida, menos obrigação e muito mais emoção. A dosagem é essa, mesmo que seu salário seja menor, sua empresa cresça menos e você não seja promovido. Afinal, até onde eu sei, o seu bem estar não está em negociação.
Promova-se para os seus, seja presidente da sua casa, rainha do seu lar (com o perdão do trocadilho), gerente da brincadeira com as crianças, assistente do ócio, analista da tábua das marés, especialista em vinhos, membro do conselho da família, com tios, primos e sobrinhos em volta da mesa de jantar, falando besteira, passando o sal e comendo churrasco. Isso é sucesso profissional, creia!
Não faço aqui uma apologia ao “vagabundismo”. Eu até gosto de trabalhar, mas, já faz um tempo, que aprendi a deixar esta função da minha vida em seu devido lugar. Minhas memórias não estão à venda, minhas vivências não estão abertas na bolsa de valores. Sou muito cara e também de graça para o que me deixa feliz.
E você? Qual é o seu preço?

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4 respostas

  1. Que perfeito post! Eu e minha família estamos buscando exatamente isso, parabéns Lu pela postagem tão tocante, com a busca do mais simples da vida, viver literalmente a felicidade!! Abraços.

  2. Eu e Carol sempre fazemos DE TUDO para não trazer trabalho para casa, nem sempre conseguimos. Concordo com a importância de deixar “cada coisa no seu quadrado”, procuro sempre deixar, pelo menos meus fins de semana, para fazer o que quero e estar com quem amo.

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