Trauma

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Das piores coisas que podem atrasar a sua vida, uma delas é o TRAUMA.
Sim, aquela sensação de pavor, medo e insegurança diante de algo – ou alguém – que faz você ter reações absolutamente despropositadas, exageradas e desconectadas da realidade, quando a situação da qual você tem trauma se repete.
Minha relação com o avião sempre foi assim, um caso de amor e ódio e de idas e vindas – com o perdão do trocadilho – mas estou me referindo ao trauma.
Quando criança, adorava voar. Achava a parte de entrar no avião, aquela adrenalina do “apertem os cintos”, ficar lá em cima, comer os lanchinhos deliciosos da Varig e da Transbrasil, certamente era a parte da viagem que eu mais gostava.
Aí, o tempo foi passando e, sabe-se lá por que, eu “garrei” num trauma de avião. Não sei se foi uma viagem turbulenta que fiz voltando de São Paulo, cujo trajeto aéreo estava bem esburacado, cheio de precipícios nos quais a aeronave insistia em querer cair, não sei se foi depois, nem sei se foi antes, sei que eu traumatizei.
Passei anos sofrendo com as viagens, porém, nunca deixava de ir.
Em meio ao trauma, peguei um voo Fortaleza – Lisboa que, lá pelas tantas com turbulências a vácuo, daquelas que derrubam o avião por uns metros e – graças a Deus – o bicho se sustenta depois, eu voei num português que estava do meu lado e mordi esse homem por mais de dez segundos.
Pausa para você entender o que eu fiz… Eu mordi mesmo, cravei meus dentes no antebraço  do gajo por desespero.
Segui viagem e foi uma série de voos todos com muito medo, todos com turbulência, todos com suor frio e assim eu fui conhecendo a Europa. No voo de volta, agarrei as mãos de um cara que sentou do meu lado – coitado – e só as soltei quarenta minutos depois.
Uma loucura!
Com o passar do tempo, fui perdendo o medo. Várias viagens apareceram, eu me assustava, mas tinha um companheiro que não sentia medo algum, logo, ele me acalmava – quando dava – e eu fui serenando. Me dei conta de que eu tinha que ter medo era de não poder voar, e ter de ficar encruada na mesma cidade pro resto da vida: PÂNICO!
Passei  a nem me incomodar com as turbulências, ia pra lá e pra cá nesse Brasil, neste mundo de meu Deus, numa tranquilidade só. Estava curada do meu TRAUMA…
Até o dia de ontem!
Peguei um voo da Tam que me fez lembrar de que somos meros mortais dentro daquela geringonça que, para a leiga que sou, jamais poderia sair do chão. Um troço imenso, pesado, cheio de gente e bagagem. Pessoas que não desligam os celulares quando o comissário manda… Enfim tem tudo pra não se sustentar lá em cima e cair feito a maçã de Newton.
Lá pelas tantas da empreitada Fortaleza – Rio, cheiro de fumaça na cabine.
Pânico 1 -Pausa pra você refletir sobre o que eu disse. Era cheiro de queimado mesmo.
Pensei: Pronto, minha vida finda aos recém completos e felizes 35 anos. Eu queria muito mais, mas não vai dar. Minha mãe e meu pai ficarão péssimos, mas não há nada o que eu possa fazer. É hoje!
Além deste, me dei conta de que uma viagem que deveria durar 2h e 50min, já durara 3h e 30min, o que, juntando com o cheiro da fumaça, só me levava a crer que o problema estava no motor e no combustível, não poderíamos pousar, pois a jamanta que voa iria explodir. Pânico 2.
O avião pousou e o lindão do comandante fala lá de dentro do seu centro de comandos da minha vida, pois naquela momento era só ele mesmo quem comandava o meu destino, que não poderia desligar os motores, pois voamos sem uma peça que se responsabiliza por manter a energia do avião acesa e, portanto, precisávamos da manutenção em terra. Pânico 3!!!
Na mesma hora olhei pela janelinha pra ver se avistava ambulâncias em solo, pois eu tinha certeza de que estávamos correndo risco.
Na hora de descer do avião, catei o piloto  e o fiz me dizer exatamente o que aconteceu:
– Comandante, o que foi que houve com este voo?
– Como assim?
– Por que o cheiro de fumaça na cabine?
– Teve isso? Nem fiquei sabendo. Isso é muito raro de acontecer, não tem perigo algum, foi na hora que aumentamos a temperatura do ar, acaba passando um pouco pro avião.
– E essa peça que veio faltando, pode viajar assim?
E com toda a paciência do mundo ele me deu uma aula de engenharia.
– Não tem problema algum, acontece que o avião ficaria sem energia se eu desligasse os motores sem essa peça. Só isso.
Meio desconfiada, contudo aliviada, nem perguntei por que demoramos tantas horas voando. Atribuí ao fim das paraolimpíadas e ao movimento do tráfego aéreo e segui pra pegar minha mala.
Traumatizei de novo, ficava toda hora pensando no confinamento e aquele cheiro de fumaça na cabine. Fiquei triste por ter garrado nessa coisa tão ruim que é o trauma e com receio de começar de novo aquela celeuma que era viajar pra mim,  com calmantes,  choros, desesperos, suores, etc.
Fui pra casa, contei pra algumas pessoas, dormi, acordei e fui direto comprar as passagens para a viagem de férias que vou fazer com minha família em outubro.
Serão 11h e 20min de voo. Tratamento de choque para o trauma, porque, como eu disse no início desta crônica, trauma é um atraso de vida e eu não pretendo andar pra trás pra fugir do medo da morte.
Prefiro avançar e contar com a sorte.
Boa viagem pra você também!
Vem Belchior! Segura aqui na minha mão.

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6 respostas

  1. Luciana , adorei ler sua crônica e saber que existem outros sofredores traumatizados de avião soltos pelo mundo, vencendo uma batalha aérea por dia! Continuemos sempre na luta, pois o mundo é grande e lindo demais para ficarmos presas ao solo!!avante!!!

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