Ufa!

ufa

Depois do delay de uma semana, durante a qual estive bendizer sem respirar tamanha era a minha apreensão, agora eu venho aqui com um sorriso largo, uma sensação de paz não vivida há quatro anos e uns vinte quilos de preocupação a menos. Ufa, que ALÍVIO!

Agora, que esse pesadelo passou, quer dizer, ainda está passando, né?, porque tem uns minions ainda fazendo suas balbúrdias Brasil afora e prejudicando, como sempre, os mais prejudicados. A sequência é simples: o caminhão não leva, a alimento, o remédio, o oxigênio não chegam aos seus destinos, os preços aumentam ou as pessoas morrem mesmo sem a medicação, com falta de ar… Mas isso a gente já aprendeu muito bem durante a pandemia, que Bolsonaro e seus súditos pouco se importam com essas coisas: máscara, Covid e muito menos com a falta de ar. Se já morreram 688.000 pessoas de uma única doença em menos de três anos, que diferença fará para eles se morrer uma dúzia ou mais a mais ou a menos?

Imagino que essa arruaça vá durar mais uma semana, no máximo, e, não sem prejuízos, claro, estaremos livres desse povo. Teremos de aguentá-los somente nas redes sociais e nos grupos de whatsapp mesmo, mas o que é isso diante dos quatro anos mergulhados no inferno que passamos? Nada, nadinha. Eu recebo, por dia, mais de dez mensagens no meu particular tentando me provar que o Bolsonaro é maravilho e que Lula irá transformar o Brasil em uma Venezuela a partir do dia primeiro de janeiro, mas, olha, a minha felicidade e a minha paz estão num nível tão bonito, que eu nem me importo. Não leio e deixo com que meus minios de estimação desabafem na esquerdopata de estimação deles. Eu sei que vai ficar tudo bem.

Estou aqui pensando que agora vai sobrar tempo e massa cinzenta pra gente finalmente se dedicar ao que importa. Veja: eu e meu namorado amamos poesia, das coisas que a gente adora fazer é ficar lendo poesias, ele lê pra mim cada uma que ele cata ali, na hora, dando um google em Manoel de Barros, Leminski, Drummond, Gullar, Cecília Meireles, Bishop, e tantos outros, pois então, isso demanda muito tempo, e, principalmente, espírito em paz para que isso acontecer. Pergunta se conseguimos fazer isso entre o primeiro e o segundo turno. Claro que não. Na última semana mal nos vimos porque eu estava militando enlouquecidamente. Fui pra passeata, bandeiraço, encontro com empresários pra bater foto, fora as milhões de postagens nas redes sociais pra ver se os indecisos entendiam que não era uma questão entre Lula e Bolsonaro, mas entre a democracia e a barbárie.

Deu certo, virei uns votos aqui, outros acolá e, por uma “peinha” de nada, dois milhões e cem mil votos, a gente ganhou. Melhor dizendo, o Brasil ganhou. Obrigada, de nada.

Agora vai sobrar tempo para você iniciar o seu curso de jardinagem vertical, por exemplo, que não deu porque a varandinha estava lotada de adesivos e bandeiras do Lula. Vai dar pra começar a reforma na sua vidraça que segurou a fachada do seu prédio dos vendavais verde e amarelo. Ah, e já pode usar verde e amarelo sem medo de ser feliz, sem ser confundida. Só tome cuidado, se você vir uma pequena aglomeração dessas cores antes da copa do mundo, pode ser os tais minions inconformados com a vitória da democracia. Só pra não te confundirem mesmo, de resto, vai de boa. Eu mesma, hoje, estou num verde bandeira lindíssimo.

Então, vai sobrar mais tempo para a leitura. Minha dica é o Por quem as panelas batem do Antônio Prata. São crônicas políticas dele desde 2013 até 2021 publicadas pela Folha. Sim, pode parecer desesperador, e é, mas o final – que ele não escreveu no livro – é feliz, então, pode ler em paz. Uma análise lúcida e bem-humorada do Brasil desde as manifestações pelos vinte centavos no aumento da passagem de ônibus até a ascensão de Jair Bolsonaro. Acredite, o Prata fala de Bolsonaro desde 2013. Juro que fiquei com pena dessa lucidez toda há tanto tempo. Eu só tomei essa consciência mais ou menos em 2016 e, do Bolsonaro, só ouvi falar mesmo em 2018 e, de lá pra cá, quase surtei. Imagina o Antônio, ele tem toda a minha admiração.

Por fim, pra não alongar mais o seu tempo, outras dicas com o tempo que sobra no seu espírito agora que ele está mais leve: praia, croché, biriba, bocha, uma caminhada no calçadão, abrir um vinho e convidar Caetano e Bethânia para sua casa, ir ao show do Chico Buarque (não perca!), apertar as bochechas das crianças – no dia da apuração eu estava tão nervosa que mal consegui brincar com o Nelsinho, tô te devendo uma batalha de cartas Pokemon, meu sobrinho – ver a decoração de Natal nos shoppings, se cadastrar para doar um real por dia pro Médico Sem Fronteiras – sim, é muito pouco e faz uma super diferença para o mundo – dormir sem acordar com sobressaltos e pesadelos eleitorais, maratonar séries, começar a acompanhar a novela das 21h, chamar a amiga que votava no coiso pra ir tomar um café e nem tocar no assunto, porque este já foi resolvido, pensar nos looks da copa do mundo, comprar glitters verde, amarelo e vermelho pra compor com a camisa verde e amarela, começar fazer a lista das lembrancinhas de Natal, pensar em umas férias, que tal? Puxar um samba… Enfim, se joga porque o Lula, livre, tá on, e o Brasil, a minha gente, o Brasil vai se livrar do tormento.

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