Vida destrambelhada – ainda sobre o dia do amigo
A vida da gente é mais ou menos assim:
Você vem equilibrando os pratinhos, paga uma conta ali, trabalha muito aqui, recebe um não acolá, pega um gripe, dá uma topada,se aborrece com o marido, o filho…
É a nota baixa da criança, o dia que tá muito quente, a chuva que caiu na hora da festa aniversário a céu aberto. É uma ligação de um amigo que mora longe, um jantar gostosinho com as amigas da faculdade, é um pouco de falta de grana, um computador novo que se quer comprar, visita pai e mãe, almoço de domingo…
Até que tem uma hora que a bruxa se solta e a vida dá aquela destrambelhada, sai do trilho, se desgoverna e a gente fica feito aquele povo da Nasa flutuando pra lá e pra cá, sem controle, só que pior, batendo com toda força por dentro e por fora.
É uma doença que se agrava, uma queda que nos quebra tudo, é o fim de um casamento, é alguém que nos acusa num momento delicado. É um acidente de carro fatal, é a saúde do filho, é a saúde da mãe, são os esquecimentos do pai. É uma demissão, era compra do apertamento que vai ter que ser adiada, é uma revelação, é uma decepção, é um fundo de poço, é uma queda livre.
Parece que a gente perde o controle de tudo. Não que o temos, mas a gente sempre acha que está no comando da nossa jornada. Planejamos o que vamos fazer daqui a dias, meses e anos. Projetamos nas crianças o que elas vão gostar de ouvir, de comer, como deverão ser felizes, o que as fará felizes, que serão bem sucedidas e portanto, devem começar desde já, aos quatro anos… Será?
Aí vem um raio – que a parte – e parte a vida em frangalhos, e desmorona nossa torre de certezas e nos joga de bung jump com corda quebrada em direção ao abismo e no fundo a gente só vê o preto. É desorganizador.
Porém, do alto dos meus 35 anos, já tendo vivido algumas coisas consideráveis nessa existência, venho aprendendo algumas que, agora, eu divido com você, caso lhe interesse.
A primeira delas – e a mais difícil – é a resiliência. Como se diz no dito popular, é o famoso “aceita que dói menos” e é verdade. Você aceitar que naquele momento de ausência de controle (e vida destrambelhada) a melhor coisa a fazer é não tentar controlar nada, mas apenas tentar minimizar os estragos é um passo gigantesco para a restauração do bem estar. Simplesmente chore, espere, converse com seus amigos, com os que te amam. Lembre-se de que você já deve ter passado por isso antes e que, em breve, a vida vai se organizar novamente, ainda que numa outra configuração, mas certamente, nesta nova fase, você estará mais forte.
A segunda delas – e que dá o título a esta crônica – é: grude nos seus amigos. Não tente ficar só, resolver os problemas sozinha, não pense que você não é uma boa companhia, por isso é melhor se isolar. Não é!
Eu sempre tive essa mania, achava que meu sofrimento era meu e ficava feito uma eremita em meus pensamentos. Hoje eu faço o esforço contrário e sempre dá certo. O ser humano só existe enquanto conjunto, acho muito difícil a pessoa ser feliz e sem ter os seus para chamar de meus. Pessoas são como curativos, elixir, anti-inflamatório, são pura vitamina C. Nos reorganizam, nos edificam e tudo dói menos.
Mas porque raios a Luciana está falando de vida destrambelhada uma hora dessas? Porque a vida não avisa que horas irá se destrambelhar, a que horas vai passar o tufão e quando o tsunami jogará suas águas.
A boa notícia é que tudo tende a voltar pro estado normal de temperatura e pressão.
Confie!