A vida sem revisor

Revisor
Revisor – Fonte: mundoantigoecia

A vida sem revisor
É o seguinte:
Toda vez que eu escrevo um post aqui, ele vai pro ar com um alguns errinhos de português. Deslizes leves, ou graves, de concordância, de gramática, de palavras cortadas, erros de sentido mesmo, pois em vez de sair “mão”, eu escrevo “mãe”, e mais alguns outros que você que me acompanha já deve ter percebido.
Não, não sou analfabeta, ainda bem! Faço parte da minoria brasileira privilegiada financeiramente, que teve a sorte de nascer em uma família que pôde me matricular em ótimos colégios. Isso é sorte, não é mérito.
O problema é que acompanhar com as teclas a velocidade e a articulação das minhas ideias, que brotam de uma só vez, não é fácil e eu falho mesmo.
Hoje, porém, meus pais, que são umas coisas lindas, vieram até mim, docemente, e me indagaram:
– (Pai) Minha filha, já que sua mãe lê todos os seus textos, porque você não manda pra ela antes de publicar? Assim ela pode fazer uma revisão.
– (Mãe) Os seus textos saem com todos aqueles erros de português?
Eu, meio corada, disse: Sim, mãe, eles saem. Por mais que eu releia, apesar de não gostar de reler, sempre me escapa algo.
Pois bem, assim como são meus textos, é a nossa vida: Uma crônica, ou conto, ou drama, ou romance, ou comédia, ou o que quer que escrevam as linhas da sua existência, a vida é um texto sem revisor.
A gente vai vivendo e vai apostando em ideias, projetos, amores, intuições, em pessoas, em trabalhos e vai escrevendo a nossa passagem por aqui.
A gente vai errando, vai acertando, vai sorrindo, vai chorando, vai se frustrando, se empolgando… Perde aqui, ganha ali, sofre agora, faz chorar depois…
É uma sucessão de tentativas e erros e não dá pra parar e ficar tentando consertar o equívoco de ontem, ou de uma vida inteira pregressa. A gente pode até se arrepender, pedir desculpas, tentar de outra forma, outro caminho, outro amor, outro ofício, mas na realidade, o que está feito, tá feito e é isso que define quem você é e,claro, o que você foi e deixou marcado enquanto desfrutava do privilégio que é estar vivo.
Ao longo do percurso a gente utiliza alguns atalhos. Assim como o corretor ortográfico do google, podemos tentar aprender com nossos tropeços, ouvir conselhos, pegar uma dica com os acertos do outro, com o outro e até com os animais. Porém, nunca estaremos livres de nos acidentarmos no caminho, ou de nos surpreendermos com o inesperado maravilhoso que calhou naquela vez.
A vida é um texto corrido, uma ata, que passa voando. Ela é cheia de exclamações, vírgulas, interjeições, pontos e vírgulas, travessões, interrogações – principalmente elas – dois pontos, aspas e todos os sinais que ela pode te dar. Vale a pena seguir e deleitar-se com todos os momentos que a vida cursiva pode te fazer passar.
Aproveitar mesmo, jogar-se sem muita pontuação, pois vai chegar uma hora que acaba, uma hora que não dá mais pra tentar de outro jeito, a hora que seu tempo esgota e a vida te dá o seu doloroso, enfático, implacável e poderoso PONTO FINAL.
E vamos de Lulu Santos com Paralamas cantando e denunciando os assaltos à gramática, que eu vivo fazendo por aqui 🙂

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