A violência nos faz violentos

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Rio de Janeiro: A cidade mais linda do mundo

Eu posso bater no peito e dizer que, na minha opinião, eu moro na cidade mais bonita desse mundo.
Não, eu não moro em Paris, muito menos em qualquer cidade daquelas paradisíacas na Nova Zelândia, Tailândia, nem em Amsterdam, nada disso. Eu moro no Rio de Janeiro.
Mas essa crônica não vem falar das coisas lindas daqui, qualquer dia eu falo, mas hoje tô meio de mal, tô chateada com a minha cidade, tô com raiva mesmo.
Há dias que a minha tia, com quem eu moro, vem tentando me alertar que o Rio está uma cidade muito violenta, mas muito mesmo. Eu ouvia, mas fazia por menos, porque, apesar dos tiroteios nas favelas, a zona sul do Rio era bem segura e eu moro no Flamengo.
Pois bem, infelizmente era, há algum tempo vem deixando de ser. Venho ouvindo casos aqui, roubos ali, arrastões, um assassinato, dois, três… É, tá difícil!
Mas essa crônica aqui não veio só pra detonar meu Rio, meu amado Rio, eu vim falar é da violência. Isso que é praga, é erva daninha, é como um câncer que vai destruindo tudo, devastando tudo e trazendo o que há de pior.
A violência faz até quem é bom ficar ruim. A violência instiga nosso ódio, nossa raiva, nosso preconceito, enfim, ela instiga os nossos piores sentimentos. A gente passa a ter medo das pessoas, a desconfiar de quem está perto, a olhar torto, a fechar a cara.
A violência impede a gente de ser leve, de andar relaxado, pensando na morte da bezerra (ops! melhor não falar em morte). Ela nos proíbe da vaidade, não podemos usar colares, brincos, adereços. A violência tira a graça das coisas.
Essa desgraça vira assunto de família e nos toma um tempão nos almoços, jantares e mesas de bares. Em vez e falarmos de amor, de filmes, novela, livros, viagens, besteiras, o assunto vira o tal da morte, ou do estupro da semana passada, ou de ontem mesmo.
A violência nos faz violentos. Hoje mesmo eu vi um cara algemado e uns outros fazendo algazarra e falei pra mim mesma: a polícia devia era passar fogo em tudinho.
Isso é horrível! É horrível sentir isso, é terrível penar nisso e medonho falar isso. Mas brota até em quem é da paz, a violência é contagiante, meu povo.
Ver o Rio de Janeiro se afundando nesse estado, ver Fortaleza, minha terra natal, como a sétima capital mais violenta do mundo, ver Curitiba dando sinais de que a peste chegou por lá é muito triste, é desanimador.
Aí você faz o que? Bota a culpa em quem? Começa a agir por onde?
Não tem escola que preste para os pobres, a desigualdade social é imensa, fazendo com que uma empregada doméstica, por mais que trabalhe a mesma quantidade de horas que um médico, não saiba se no final do mês terá condições de botar comida na mesa para os filhos.
Some-se a todos os problemas sociais externos que temos, o instinto desgraçado que carregamos. O da vaidade, o do querer o poder, o da mesquinhes, do egoísmo, da intolerância e do diabo a quatro que nasce com a gente.
Aí a coisa estoura. No lado do mais forte e no do mais fraco. Rouba quem tem muito e quem tem pouco. Morre quem é rico e quem é pobre. Sofremos todos. Perdemos todos com a violência.
Hoje eu vi no Rio um início de arrastão, um alguém algemado e, pra completar, um acidente de moto. Tudo ao mesmo tempo. É que energia ruim atrai coisa ruim.
Hoje nem sei terminar direito essa crônica com uma mensagem positiva. Nem tô conseguindo dar a volta por cima, como sempre gosto de fazer.
Mas sou otimista de nascença, não tem jeito, no meu The end, tudo fica bem.
Meu Rio não vai ter mais tiroteio, nem arrastões que me façam sair correndo da praia. Em Fortaleza só se morrerá de velhice, em Curitiba poderemos andar de madrugada com nossos adornos.
Eu eu vou seguir sorrindo, pensando em nada, pelas ruas iluminadas pelo sol, em direção ao mar e um coração cheio de paz… Da paz que eu quero conservar pra tentar se feliz.
Simbora de Rappa

 

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