Sonho de Natal
Dormi esperando o papai Noel
Certa de que ele não iria falhar
Deixei biscoitos e leitinho
Pra que ele pudesse se agradar.
Acordei e corri pra árvore
Os presentes haviam sumido
Como se papai Noel os tivesse pego
E todos eles redistribuído.
No sonho ele chegava bem perto
E com voz mansa e rouca começava a me dizer
Sabe aquela família com três filhos que você tropeça em cada esquina?
Dei pra eles o tender, o chester e a boneca pra bebê.
Curiosa, eu lhe perguntava
Mas e a roupa, o patinete, os sapatos e os laços do cabelo?
Calmamente, me dizia ele
Dei pro refugiado, pro mendigo, e pro cara que todo dia limpa, do carro, o seu espelho.
Mas Noel, eu tão bem me comportei.
Eu não mereço minha recompensa?
Olha, até que você não é má pessoa, não,
Mas dar bom dia ao porteiro, tirar boas notas e não fazer malcriação
Não te faz melhor do que ninguém, não.
Sabe?, menina que sonha,
Quando você acordar, vai ver que nada mudou
Isso tudo é só ficção
Infelizmente, usam meu nome e o do meu amigo Jesus em vão.
Dizem que a gente é símbolo da paz
E que hoje ele nasceu
Mas veja se pode, ó menina, diante de tudo o que aconteceu
Você acreditar que Deus vai te dar um presente
Porque simplesmente você mereceu?
Sabe quem aguentou um rojão em 2019 sobreviveu?
Quem? Indago eu.
Àquela mãezinha que trabalhou todo santo dia, dentro e fora de casa
Pra tentar criar os filhos, enquanto o pai a abandonava.
Merece ou não merece, o presente que você almejava?
(Faço que sim com a cabeça e o encaro com olhar de resignação)
Sabe a Ágatha?
Sim, claro que me lembro da menininha que levou os tiros
Sabe o que ela sonhava em ser?
Bailarina e brincar pra valer.
Peguei sua sapatilha e levei de volta no trenó
Como moro bem perto do céu
Deixarei debaixo de sua nova cama, longe do pai e da mãe
Pra ela continuar sonhando entre luas e estrelas ao léu.
É que, minha filha – disse pra mim o papai Noel
Não aguento mais visitar o mesmo endereço.
Em cada cidade, minha rota não muda.
Os bairros, as ruas… Nessa vida de forasteiro,
Traço somente o caminho do dinheiro.
Quanto mais brilhante a árvore
Mais presente tenho pra deixar
Pois esse ano mudei de tática
Deus há de me perdoar.
Troquei lá em cima de lugar
Deixei as renas todas loucas
O que elas sabiam de cor e salteado
Estava com o chip todo trocado.
Elas nunca viram casas tão feias
E tão difíceis de chegar
Com tanta gente morando dentro
Nem leite com biscoitos tinha pra merendar.
Fomos em cada uma
E vimos da nossa TV, o dono da pobre casa acordar
Você não imagina a alegria
E aí, eu tive certeza afinal:
Esse era o verdadeiro milagre de Natal.
Acordei.
Respostas de 6
“(Faço que sim com a cabeça e o encaro com olhar de resignação)” quem enxerga essa cena vê o filme.
Ótima película, senhora autora.
Obrigada pelo elogio como roteirista. Adorei!
Tens uma sensibililidade rara….alma de poeta!!!Vês o que a maioria esconde.Deus,contigo!!!!!Abraços …linda menina!!!Um Novo Ano iluminado!!!
Muito obrigada, Maria José, por suas tão lindas e delicadas palavras. Que seu novo ano seja cheio de luz. Bjs
Sensibilidade pura!!!!
Tive de quem puxar :).